O ministro Gilmar Mendes, relator das ações sobre a tese do marco temporal das terras indígenas no Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu nesta segunda-feira (5) que são necessárias “disposição política” e “nova perspectiva” para tentar resolver o problema. impasse em torno do tema.
“Até quando a nossa sociedade viverá com estas feridas abertas que não podem ser resolvidas?” perguntou Gilmar Mendes. “É necessária vontade política e vontade de reabrir as partes negociais, despojando-se de certezas estratificadas, para que seja imperativo um novo olhar”, afirmou.
Gilmar Mendes abriu esta tarde a primeira de uma série de reuniões com ruralistas, indígenas e representantes de órgãos públicos e do Congresso Nacional, em processo de conciliação por ele determinado. O ministro é relator de cinco ações na Corte que rediscutem a tese do marco temporal.
O relator pediu que os participantes da conciliação foquem em soluções, evitando exposições que visem apenas atacar o outro lado ou realizar uma “defesa isolada ou conjunta de interesses corporativistas”.
Da abertura do encontro também participou o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, que pediu desculpas pela dificuldade que os representantes indígenas tiveram em entrar no anexo do tribunal, onde ocorre o processo de conciliação, na sala de audiência da Segunda Turma. Ele disse que foi um “erro de segurança”.
Barroso disse que a divergência entre o Legislativo e o Judiciário sobre o tema era evidente e argumentou que era “institucionalmente desejável encontrar uma solução que possa harmonizar, se possível, as diferentes visões sobre esta matéria”.
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A previsão é que outras reuniões ocorram e que os trabalhos de conciliação sejam concluídos até o dia 18 de dezembro, quando o ministro Gilmar Mendes quer apresentar propostas de solução para uma nova regulamentação sobre a demarcação de terras indígenas.
Audiência
O governo enviou para a reunião a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, e membros do Ministério dos Povos Indígenas, da Advocacia-Geral da União (AGU) e do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
A deputada Celia Xakriabá (PSOL-MG) e o deputado Pedro Lupion (PP-PR) representaram a Câmara, enquanto os senadores Jacques Wagner (PT-BA) e Tereza Cristina (PP-MS) compareceram em nome do Senado.
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Em representação dos estados, esteve presente Ana Carolina Garcia, procuradora-geral de Mato Grosso do Sul e secretária-geral do Colégio Nacional dos Procuradores do Estado.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) enviou cinco representantes. Logo no início da audiência, um deles, o advogado Maurício Terena, pediu novamente, em nome da entidade, que Gilmar Mendes concedesse liminar (decisão provisória) para suspender imediatamente a nova Lei de Marco Temporal (Lei 14.701/2023).
Tese
Segundo a tese do marco temporal, os indígenas só têm direito às terras que estavam em sua posse em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ou que estavam em disputa judicial à época.
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A tese é questionada há décadas no Supremo Tribunal Federal, que em setembro do ano passado, após diversas sessões de julgamento, decidiu pela inconstitucionalidade do prazo para demarcação de terras indígenas.
Pouco depois, porém, o Congresso aprovou uma nova lei para validar a tese do marco temporal. A nova legislação foi vetada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deu como justificativa a decisão do próprio Supremo Tribunal Federal, mas os vetos foram derrubados em dezembro.
A nova lei foi alvo de diversas contestações no Supremo Tribunal Federal, que foi provocado a reabrir os debates mesmo depois de já ter se pronunciado definitivamente sobre o tema, o que gerou um impasse com o Legislativo.
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