Em um novo capítulo do embate entre a liderança do Judiciário e do Tribunal de Contas Federal, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luís Roberto Barroso, suspendeu decisão do Tribunal de Contas que autorizava fiscalização no Tribunal Federal em a atribuição de multas pagas em conexão com condenações criminais.
A decisão foi assinada nesta quarta-feira, 31, último dia do turno judicial, a pedido da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).
A entidade alegou ao STF que a fiscalização, pelo TCU, dos valores arrecadados pelo Poder Judiciário em decorrência de sentenças judiciais violou “as garantias da autonomia administrativa e financeira do Poder Judiciário”.
Segundo a Associação dos Juízes Federais, o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho da Justiça Federal são os órgãos responsáveis pela fiscalização e controle da atividade administrativa e financeira dos tribunais.
Para a entidade, realizar fiscalizações pelo TCU “desrespeita as prerrogativas do Poder Judiciário federal”.
Ao analisar o caso, Barroso entendeu que, “pelo menos à primeira vista”, faz sentido a alegação dos juízes federais de que a decisão do TCU “ultrapassou” sua competência constitucional.
O Tribunal de Contas pretendia monitorizar a forma como os juízes estavam a distribuir os valores – e não como as entidades beneficiárias das transferências gastavam esse dinheiro.
Barroso alertou que havia risco para o processo caso a medida não fosse concedida no último dia do turno judicial. Ele considerou que a auditoria do TCU estava prevista para acontecer entre 24 de junho e 27 de setembro e entendeu que os atos de fiscalização autorizados “podem ser realizados a qualquer momento”.
O relator do caso é o ministro Kassio Nunes Marques.
O presidente do STF destacou precedentes em que a mais alta instância anulou atos que “invadiam a competência reservada ao CNJ”.
Ele citou a anulação de decisão do Tribunal de Contas que determinava ao Estado do Piauí complementar precatórios – valores devidos por condenações judiciais – do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), em razão da competência do CNJ para fiscalizar o atividades administrativas do Poder Judiciário.
A última derrubada, pelo STF, de uma decisão do Tribunal de Contas da União que gerou grande repercussão ocorreu em dezembro do ano passado.
Na época, o ministro Dias Toffoli revogou decisão do TCU que suspendia o pagamento de quase R$ 1 bilhão em pagamentos a juízes federais.
O caso expôs o conflito entre a liderança do Judiciário e o TCU.
Sobre a fiscalização de multas, Barroso lembrou que o CNJ já regulamentou a destinação de recursos decorrentes de sanções estabelecidas em processos penais.
Segundo o presidente do STF, a regulamentação ainda “aumentou o rigor” na destinação dos valores, com critérios de “credenciamento de entidades, aplicação de recursos, prestação de contas e garantia de transparência”.
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