O conjunto de incertezas que fizeram o Banco Central interromper o ciclo de flexibilização monetária ainda existe, impedindo um corte nos juros esta semana, avaliou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello.
Em entrevista à Reuters nesta sexta-feira, à margem das reuniões de líderes financeiros do G20, no Rio de Janeiro, Mello disse que as taxas de juros no país estão bem acima do nível considerado neutro para a economia.
No entanto, afirmou que o ambiente não melhorou significativamente desde junho, quando o Banco Central manteve a taxa básica de juros da economia em 10,50%.
As observações de Mello se alinham com a avaliação unânime do BC de um ambiente interno e externo desafiador, contrastando com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que critica o nível das taxas de juros e a condução da política monetária.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu pausar o ciclo de corte da Selic após sete reduções consecutivas que reduziram a taxa básica em 3,25 pontos percentuais desde agosto de 2023. O grupo se reunirá novamente nos dias 30 e 31 de julho.
“O que o Copom decidiu na última reunião foi que diante dessas incertezas crescentes — que evidentemente também geram uma desancoragem das expectativas internas e que afetaram o preço de alguns ativos, como o câmbio — preferiu interromper e espere, mantenha essa taxa de juros”, disse Mello.
“O que observo é que esse conjunto de incertezas ainda existe”, acrescentou.
Desde a última reunião do Copom, o dólar subiu quase 7% em relação ao preço de 5,30 que havia sido considerado pelo Banco Central em suas projeções, fator que pressiona a inflação.
Supervisor
Em outra incerteza monitorada pelo BC, o impasse em torno da desoneração da folha de pagamento para empresas e municípios tem impacto relevante o suficiente para comprometer a busca do governo pelo déficit primário zero neste ano, disse Mello. Ele considerou que o departamento continua apoiando o Congresso na avaliação de medidas de compensação do benefício.
“É óbvio que continuaremos o diálogo tentando construir uma saída, mas conscientes de que estas despesas fiscais tiveram e terão um impacto importante este ano, o que dificulta a execução do orçamento para um ano que pretendemos atingir próximo do equilíbrio fiscal”, afirmou.
O Supremo Tribunal Federal deu até 11 de setembro para que o governo e o Congresso aprovassem as medidas compensatórias. Caso contrário, o benefício poderá perder eficácia.
Para o secretário, a decisão do tribunal precisará ser cumprida mesmo que haja compensação parcial do custo das medidas.
“Gostaríamos de equilibrar o Orçamento este ano, estamos com essas dificuldades, um volume significativo de receitas que estávamos contando, ainda não resolvemos, pretendemos resolver isso em breve”, disse.
“Então estamos fazendo entrega por entrega para superar essas incertezas e criar um ambiente que no futuro consolide a possibilidade de vocês retomarem o ciclo de queda dos juros”, afirmou.
Imposto sobre os super-ricos
Um dos responsáveis no ministério pelas discussões relacionadas à tributação dos super-ricos, Mello comemorou o resultado da reunião de lideranças financeiras do G20, que terminou com a publicação de um comunicado conjunto e uma declaração de consenso sobre tributação, mencionando a proposta brasileira procurar formas de tributar eficazmente os ultra-ricos.
Reconheceu que há um “longo caminho” para implementar o plano, que é visto com resistência pelos países mais ricos, apesar do endosso da ideia geral nos documentos do G20.
“A questão da tributação dos super-ricos é uma daquelas questões que veio para ficar”, disse, defendendo que as eleições nos Estados Unidos não devem criar o risco de a questão ser completamente bloqueada.
“Uma mudança de governo pode comprometer o ritmo de avanço dessas agendas, mas dificilmente impedirá que sejam profundamente discutidas e que as formulações ocorram nos contextos apropriados.”
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