A tecnologia da informação (TI) já foi considerada a profissão do futuro, com altos salários, benefícios e estabilidade. Hoje o cenário parece não ser mais o mesmo, com quase 45% das empresas relatando dificuldade na contratação desses profissionais, que por sua vez afirmam que os salários são insatisfatórios e a jornada de trabalho exaustiva (50%).
Os dados são de uma pesquisa global encomendada pela Gi Group Holding, em parceria com a universidade tecnológica italiana Politecnico di Milano e a empresa de inteligência de dados INTWIG Data Management, que mapeou o mercado de trabalho de TI e suas tendências ao redor do mundo.
A pesquisa destacou que no Brasil apenas 10,9% das organizações afirmam não ter dificuldades para encontrar mão de obra qualificada no setor de tecnologia da informação, enquanto 43,7% indicam que sofrem “um pouco” ou “muito” para encontrar trabalhadores com formação avançada. habilidades digitais.
Mariana Oliveira Rolim, diretora executiva da Brasscom, entidade que reúne empresas do setor, destaca que a oferta de vagas é maior que a demanda e que a maioria desses trabalhadores não está suficientemente qualificada ou atualizada com as tecnologias desejadas pelas empresas.
“Com apenas 53 mil pessoas formadas anualmente em cursos tecnológicos e uma demanda média anual de 159 mil profissionais de tecnologia da informação e comunicação, o Brasil tem um grande desafio pela frente”, afirma.
O estudo “Demanda por Talentos em TIC e Estratégia ΣTCEM”, da Brasscom, mostra que as empresas de tecnologia deverão precisar de cerca de 797 mil profissionais entre 2021 e 2025.
Contudo, a projeção da pesquisa é de um déficit anual de 106 mil pessoas, ou 530 mil em cinco anos.
“São números que refletem o quanto o mercado precisa de talentos, pessoas treinadas e especializadas na área de tecnologia. É um diferencial importante”, afirma Rolim.
Na outra extremidade, pesquisa do Gi Group mostra que para a maioria dos trabalhadores do setor o salário oferecido não é suficiente, as vagas não atendem às suas expectativas e há outras oportunidades melhores (19%).
Os entrevistados afirmaram ainda que antes de aceitar uma oferta de emprego avaliam o modelo de trabalho (15%), a duração dos processos seletivos (12%) e os valores éticos da empresa (10%).
O que os profissionais de TI esperam de seus empregos
A remuneração (49%) e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional (31,2%) são prioridades para os trabalhadores de TI, mostra a pesquisa.
A quantidade de estresse foi considerada o terceiro fator mais importante (21%), o que mostra que esses profissionais estão evitando longas jornadas de trabalho e sobrecarga.
Viviane Sampaio, gerente de recrutamento de TI da consultoria Robert Half, explica que muitas vezes os colaboradores do setor precisam estar alertas devido à natureza do seu trabalho, “que exige atenção constante aos detalhes técnicos e rápida resolução de problemas críticos”, causando pressão e esgotamento .
“A rápida evolução tecnológica e a necessidade de manter sistemas essenciais em funcionamento aumentam a pressão sobre estes profissionais”, afirma.
A instabilidade organizacional também é vista como fonte de nervosismo por 32% dos entrevistados, enquanto os conflitos com colegas e a má gestão de recursos são citados por 26% como fatores que agravam a tensão.
O especialista destacou que a disparidade entre o volume de trabalho e os profissionais disponíveis resulta em sobrecarga e tarefas com prazos apertados.
“Este ambiente, que exige elevada vigilância e disponibilidade contínua, conduz muitas vezes a um desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional. No curto prazo, é preciso ter uma gestão de tempo eficiente”, comenta Sampaio.
Além disso, foram elencadas oportunidades de crescimento (25%), flexibilidade (22%) — formatos 100% remotos ou híbridos, redução da jornada de trabalho sem cortes salariais, licenças sabáticas não remuneradas, entre outras práticas — e benefícios e bem-estar (20%) como prioridades.
Mesmo com os dados negativos, 19% dos participantes responderam que preferem a área de TI a qualquer outra do mercado de trabalho.
O que as empresas esperam dos funcionários
Os recrutadores relataram na pesquisa que as vagas oferecidas recebem muitas visualizações, mas poucas inscrições (21%), que os processos seletivos são muito demorados (20%), falta de candidatos adequados (20%) e oferta de emprego insatisfatória (19%).
O gestor de recrutamento de TI destaca que na vertente técnica, as empresas procuram colaboradores com competências em implementação de sistemas (ERP), proficiência em tecnologias de computação em nuvem, conhecimentos em linguagens de programação como Python, Salesforce e bases de dados.
Essas especializações indicam uma “necessidade crescente de especialistas em segurança da informação para proteger dados confidenciais”, afirma Sampaio.
As soft skills também estão em alta no mercado. “Os empregadores procuram profissionais capazes de se adaptar rapidamente, lidar com os desafios de forma construtiva e motivar as equipes”, afirma o recrutador.
Para os cargos de gestão, a liderança ativa, próxima dos liderados, comunicativa e responsável é o diferencial da área.
“Habilidades como comunicação eficaz, relacionamento interpessoal, negociação e capacidade de engajamento de equipes têm se tornado cada vez mais importantes”, afirma o especialista.
Inteligência artificial: aliada ou inimiga?
Segundo a pesquisa, muitas empresas estão integrando inteligência artificial (IA) em suas plataformas ou até mesmo fazendo do seu uso a base de seus negócios.
Para Sampaio e Rolim, a IA serve como ferramenta de apoio aos profissionais do setor, pois automatiza tarefas repetitivas, libera tempo para atividades estratégicas e oferece suporte em análise de dados e segurança cibernética.
“As ferramentas de IA auxiliam na escrita de códigos, testes automatizados e gerenciamento de infraestrutura, aumentando a eficiência e permitindo que os profissionais de TI se concentrem em inovações e melhorias de processos”, afirma Sampaio, da Robert Half.
Trabalho remoto e ambientes saudáveis
Embora o trabalho seja considerado importante para os trabalhadores de tecnologia da informação, apenas 15,8% desses profissionais trabalham 100% em casa no mundo, enquanto no Brasil esse número é de apenas 8%.
Esse índice foi maior durante a pandemia, mas a tendência para o período pós-Covid tem sido o trabalho híbrido, adotado por 38% dos trabalhadores de TI no país.
Segundo Sampaio, “o trabalho presencial não é uma tendência universal na área de TI. Tudo depende dos projetos e necessidades de cada empresa.”
O diretor destaca ainda que pelo fato do atendimento de TI em si não ser uma atividade que precisa ser presencial, durante a pandemia o modelo híbrido ou 100% remoto se popularizou entre as empresas do segmento.
“Na verdade, existem empresas sem sede no Brasil que contratam profissionais brasileiros para atender seus clientes no exterior”, afirma.
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