Paralelamente à discussão da reforma tributária sobre o consumo, cujo regulamento foi aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 10 de julho, o debate sobre a reforma da renda evolui no Brasil e no mundo.
Esta é mais uma etapa da reforma tributária, mas não foi incluída neste primeiro texto, que tem como foco a simplificação da tributação do consumo ao combinar os cinco tributos federais e estaduais existentes atualmente em duas contribuições. O governo está trabalhando para avançar com a reforma de renda em 2025.
Até o momento, a equipe econômica de Lula já conseguiu aprovar junto ao Congresso a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até dois salários mínimos. À medida que as reformas avançam, Haddad espera que o piso chegue a R$ 4 mil no próximo ano.
A promessa do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é que a isenção alcance quem ganha até R$ 5 mil por mês.
Entre os principais mecanismos discutidos para reduzir as desigualdades estão a tributação dos fundos super-ricos e as revisões do Imposto de Renda (IR).
No final de 2023, Lula sancionou a lei que tributa investimentos no exterior (offshores) e fundos exclusivos. A medida é considerada essencial pelo Ministério da Fazenda para arrecadar cerca de R$ 20 bilhões este ano e buscar déficit zero.
E os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não se limitam às nossas fronteiras. A proposta, além do caráter arrecadatório, visa promover a redistribuição de renda e mitigar as desigualdades.
No âmbito do G20 — grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo e é presidido pelo país até ao final do ano — Brasil, França, autoridades de Espanha, Alemanha e África do Sul discutem um plano que exige bilionários paguem impostos no valor de pelo menos 2% de sua riqueza total todos os anos.
Propõe-se que o montante seja utilizado pelos países para combater a fome e as alterações climáticas, por exemplo.
“Nos últimos quatro séculos, o mundo transformou a natureza em pecúnia, em dinheiro, numa necessidade, porque as pessoas vivem daquilo que produzem. Mas agora teremos que pegar parte desse dinheiro e investir na recuperação da natureza e na preservação do que ainda existe”, disse a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, ao Entrevistas CNN em maio.
Mas na opinião de Guilherme Klein, professor do Departamento de Economia da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e pesquisador do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made-USP), as propostas de taxação dos super-ricos ainda pode ser desenvolvido.
Segundo estudo da Made-USP, os 0,2% mais ricos têm uma riqueza per capita de cerca de R$ 13 milhões, 134 vezes mais que a riqueza média do restante da população.
“Quando olhamos o percentual pago no IRPF como proporção da riqueza, esse grupo paga cerca de 1%, bem menos do que alguém com renda média de R$ 13 mil, por exemplo, que paga 3,8%”, diz Klein.
“Uma taxação mínima de 2% sobre os ativos, nos moldes defendidos pelo governo brasileiro no G20, reduziria significativamente o favoritismo fiscal aos super-ricos e seria capaz de gerar mais de R$ 40 bilhões anualmente, o suficiente, por exemplo, para financiar 25% dos gastos do Bolsa Família em 2023”, finaliza.
E junto com a tributação dos fundos super-ricos, veio a isenção de IR para quem recebe até dois salários mínimos. Aprovada pela primeira vez em 2023, a faixa de isenção teve que ser renovada este ano com o aumento do salário mínimo para R$ 1.412.
Contudo, argumenta-se também que, a longo prazo, a tributação dos offshores e os fundos exclusivos não seriam eficientes nem no aumento das receitas nem na redução das desigualdades.
Num país com despesas recorrentes elevadas, direcionar essa receita – que além de baixa, não seria constante, seria extraordinária – não é vista como um caminho eficaz pelo ex-presidente do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério das Finanças, Marcos Lisboa.
“O valor arrecadado é baixo. É correto reduzir as distorções e há uma agenda importante no Brasil nesse sentido. Mas este valor é baixo e o impacto em questões como a pobreza e a desigualdade é insignificante”, afirma Lisboa.
Mas os especialistas consultados pela CNN apontam que existe outra forma mais eficiente de promover a reforma da renda: o fim da isenção de tributação sobre lucros e dividendos.
“Essa é a única medida capaz de reverter por si só a regressividade tributária, ou seja, maiores rendas pagando menos impostos, e gerar um aumento de arrecadação em torno de 18%, aproximadamente R$ 58,2 bilhões”, enfatiza Klein.
Além disso, o grupo de pesquisa da USP avaliou cenários em que seriam implementados:
- O fim das deduções para despesas privadas de saúde e educação;
- A faixa extra sobre o 1% mais rico;
- A ampliação da faixa de isenção até R$ 5.200, utilizando as faixas propostas pelo PL 2.140/22.
Por si só, a tributação sobre lucros e dividendos reduziria o coeficiente de Gini do país – que mede a desigualdade e, portanto, quanto maior o nível, pior – em 0,6%, para 0,614.
Segundo o índice em questão, o país é o 14º mais desigual do mundo.
No cenário sem deduções para saúde e educação, o índice cairia para 0,617; com a faixa adicional sobre o 1% mais rico, seria de 0,618; e com a isenção mais ampla, 0,626.
Somados os fatores, exceto a isenção de imposto de renda até R$ 5 mil, o indicador seria reduzido para 0,612.
Ao analisar a nota da Made-USP, Tathiane Piscitelli, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Tributação e Gênero da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV Direito SP), reforça que olhando a renda das pessoas físicas e considerando isso, a medida seria ser central para gerar “um impacto relevante na redução das desigualdades”.
“Em relação à tributação da renda, que precisa começar a ser discutida além de medidas como a tributação dos fundos fechados e a questão das empresas offshore, precisamos olhar para a questão da reforma da renda individual”, enfatiza Piscitelli.
Além do potencial de receita, Klein aponta para um potencial impacto geral na economia brasileira.
“A reforma do imposto sobre o rendimento, se avançar no sentido de aumentar a progressividade do sistema através, por exemplo, da tributação dos super-ricos e do fim da isenção de tributação sobre lucros e dividendos, será fundamental para o crescimento económico e a redução da enorme desigualdade ainda presente no Brasil”, finaliza o professor e pesquisador.
Tributação empresarial
Os especialistas consultados pelo CNN Apontam também como a reforma do imposto de renda deve ser realizada em relação às conquistas das pessoas jurídicas.
O primeiro passo nesse sentido seria eliminar a dupla não tributação dos rendimentos dos regimes simplificados, simples e presumidos, na avaliação de Vanessa Canado, coordenadora do Centro de Pesquisas Tributárias do Insper.
“O imposto de renda que não foi recolhido pela pessoa jurídica por presunções legais – por exemplo, tenho margem de lucro na minha empresa do Simples de 95%, mas só pago IR sobre um pequeno percentual disso, porque a lei presume que Tive muito menos lucro – deveria ter sido pago pelo sócio”, explica Canado.
“Isso não acontece com pessoas jurídicas optantes pelo lucro real, grandes empresas, porque neste caso a lei não pressupõe lucro. Poderia aumentar a carga sobre os acionistas mais ricos, mas aqui não há dupla tributação, ou seja, não há distorção, como há nos regimes simplificados”, conclui.
Klein reforça ainda que o argumento de que o aumento seria injusto, uma vez que a carga atual já é elevada, não é válido.
“Há estudos que indicam que a alíquota efetiva para as empresas, levando em conta as isenções, é muito inferior à alíquota de 34%, e outros que, ao comparar a alíquota brasileira com a média da OCDE de 48,5%, indicam que há sim espaço para tal medida”, aponta o professor da Universidade de Leeds.
Para que a tributação seja eficiente, Canado destaca que as medidas adotadas devem ser específicas e direcionadas.
“Tal como alguns que já foram feitos na área dos prémios, preços de transferência. Isso aproxima o lucro da empresa de ser efetivamente tributado aos 34% que é a alíquota nominal atual”, finaliza o coordenador do Centro de Pesquisa Tributária do Insper.
Na semana passada, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que “está em cima da mesa uma proposta” para aumentar a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para compensar a isenção da folha de pagamento.
Atualmente, de acordo com o Site da Receita Federala alíquota da CSLL é:
- 15% para instituições financeiras;
- 9% para outras empresas.
A avaliação do Tesouro é que as medidas sugeridas pelo Senado para custear a desoneração da folha de pagamento não valem a pena, além de não serem fontes permanentes. O aumento da CSLL seria para “todos os setores”, disse Padilha.
“Se não compensar, você aumenta em até 1% o nível necessário para essa compensação. A proposta continua em cima da mesa”, citou Padilha, após reunião com o ministro Fernando Haddad.
Mas, para Marcos Lisboa, esse é um caminho que também não deveria ser tão eficiente para os cofres públicos.
“O dinheiro que pode vir daí não é tão grande. [Além disso], estamos aumentando a tributação sobre o lucro real e proporcionando novos subsídios na reforma tributária. Em outras palavras, você tira de um lado e dá do outro. A conta não fecha”, comenta o ex-secretário da Fazenda.
Com informações de Danilo Cruz e Danilo Moliterno, da CNN
Compartilhar:
taxa de juros para empréstimo consignado
empréstimo para aposentado sem margem
como fazer empréstimo consignado pelo inss
emprestimos sem margem
taxa de juros empréstimo consignado
consiga empréstimo
refinanciamento emprestimo consignado
simulador empréstimo caixa
valores de emprestimos consignados
empréstimo para funcionários públicos
valores de empréstimo consignado