A capacidade cognitiva do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, é um dos temas mais debatidos em torno das eleições norte-americanas desde o início das campanhas eleitorais. A situação, que, a priori, pode ser considerada apenas política, traz também à luz um tema de interesse humano: a envelhecimento natural e seu impacto na cognição.
À medida que envelhecemos, o cérebro passa por mudanças estruturais e funcionais que podem afetar a atividade cognitiva. Alguns exemplos comuns desse impacto são a dificuldade de lembrar nomes, números de telefone e objetos armazenados.
Segundo Carolina Rebellato, especialista em gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e professora do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), existem fatores internos que estão envolvidos no impacto da envelhecimento nas funções cerebrais. .
“Existem aspectos biológicos como perda de neurônios, redução da densidade sináptica [comunicação entre neurônios] e a produção de neurotransmissores, acúmulo de certas proteínas no cérebro, redução da síntese e absorção de vitaminas e alterações hormonais que podem trazer alterações no desempenho cognitivo em geral”, explica o geriatra ao CNN.
No entanto, também existem fatores externos que pode afetar a cognição. É o caso do sono insuficiente, do tabagismo, do consumo abusivo de álcool, do sedentarismo, da alimentação inadequada e do estresse, segundo Diego Haddad, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Além disso, outras condições de saúde também podem influenciar, como hipertensão, obesidade, depressão, ansiedade e traumatismo cranioencefálico.
A boa notícia é que muitos desses fatores são modificáveis. Em outras palavras, com as mudanças no estilo de vida, É possível reverter esse risco e minimizar o impacto do envelhecimento no cérebro e na cognição. A seguir, veja os principais hábitos que podem proteger o cérebro.
Mantenha uma dieta saudável e faça exercícios
Entre os hábitos que podem proteger o cérebro antes e durante o envelhecimento estão a prática regular de atividade física e a adoção de uma alimentação saudável. A dieta mediterrânica, por exemplo, é conhecida pelos seus efeitos positivos na redução do risco de demência e perda de memória, além de ter benefícios contra o risco de diabetes, colesterol elevado, depressão e cancro da mama.
Um estudo publicado em 2022 mostrou que o exercício físico pode aumentar os níveis de uma proteína conhecida por fortalecer a comunicação entre as células cerebrais através das sinapses, o que pode ser um fator no controle e minimização da demência. O efeito protetor foi encontrado inclusive em idosos ativos que já apresentavam sinais de Alzheimer e outras doenças cognitivas.
Pratique atividades que exercitem o cérebro
Além de exercitar o corpo, é fundamental praticar “ginástica cerebral”, ou seja, realizar atividades que estimulem a cognição. “A ausência de estímulos para o cérebro também pode impactar a cognição”, diz Haddad.
Esses estímulos incluem atividades que exigem atenção e raciocínio, como:
- Quebra-cabeça;
- Palavras cruzadas;
- Jogos de tabuleiro;
- Jogos de vídeo;
- Sudoku;
- Cálculos matemáticos;
- Ábaco.
Outra forma de exercitar e desafiar o cérebro é aprender novas habilidades, como um novo idioma, aprender a tocar um instrumento musical ou explorar atividades que exijam coordenação e concentração, como um novo esporte.
Manter relações sociais fortalecidas
O isolamento social é um dos fatores de risco para o declínio cognitivo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a solidão pode aumentar o risco de demência em 50%. “As recomendações mais importantes são aumentar a reserva cognitiva mantendo-se socialmente ativo e buscando aprender e desenvolver novas habilidades e viver novas experiências”, afirma Omar Jaluul, geriatra do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, ao CNN.
Para isso, é interessante participar de programas de comunidades religiosas, centros esportivos, associações de bairro e trabalhos voluntários. “É importante fazer o que gosta, envolver-se em atividades sociais e de lazer, além de procurar uma rede social que esteja disponível quando você precisar”, acrescenta Rebellato.
Controlar e evitar fatores de risco para declínio cognitivo
“O sedentarismo, a alimentação baseada em alimentos ultraprocessados, o tabagismo e o alcoolismo, além da vida social empobrecida são fatores determinantes para uma pior saúde cognitiva”, reforça Jaluul. O especialista afirma que evitar esses fatores é uma das principais formas de minimizar o impacto do envelhecimento no cérebro e na cognição.
“Também é importante prevenir e tratar adequadamente as doenças crónicas pré-existentes”, acrescenta a geriatra. É o caso do diabetes, da hipertensão, da obesidade e do colesterol alto.
Tentar manter um sono de qualidade também é outra medida fundamental. De acordo com um estudo publicado em 2021 na Nature Communications, pessoas que dormiam menos de seis horas por noite, na faixa dos 50 e 60 anos, apresentavam maior risco de demência em comparação com aquelas que dormiam sete horas por noite. O estudo acompanhou quase 8 mil pessoas durante 25 anos.
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