Depois de um primeiro semestre em que houve uma debandada de recursos de investidores estrangeiros na Bolsa, o segundo semestre começa a apresentar contornos bem diferentes, incluindo onze altas consecutivas do Ibovespa. Não é por acaso que o índice já acumula alta de 4,47% nos primeiros 17 dias de julho, após cair 7,6% entre janeiro e junho.
Esse início positivo de julho é sustentado pela entrada líquida positiva de R$ 3,1 bilhões de recursos estrangeiros na Bolsa de Valores brasileira até o momento, no início do segundo semestre. A título de comparação, as saídas de recursos externos totalizaram R$ 38,8 bilhões no primeiro semestre do ano.
Ou seja, no acumulado do ano o saldo continua negativo, mas já se inicia uma inversão da tendência, que até então era muito negativa. Por trás dessa reversão, porém, não há uma explicação única, mas sim uma série de fatores.
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Entre os motivos do retorno da moeda estrangeira à Bolsa brasileira estão: a visão cada vez mais predominante de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deveria cortar as taxas de juros a partir de setembro, a suavização do discurso do presidente Lula com críticas à do BC e o maior comprometimento com a meta fiscal, além do fato de grande parte dos ativos brasileiros estarem “baratos” – com avaliação muito descontado em relação à média histórica.
Saldo por mês de fluxo externo (considerando julho até dia 15):
EUA: fluxo estrangeiro para B3
“Grande parte dessa entrada de estrangeiros é explicada pelo cenário macro global”, afirma Jennie Li, estrategista de ações da Research da XP. “Nos últimos dois meses, junho e julho, vimos mais uma vez dados de inflação mostrando certo alívio nos Estados Unidos”, acrescenta.
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Ela explica que, com a perspetiva de que os preços nos EUA estejam sob controlo, a Fed tem espaço para cortar as taxas de juro — com o mercado, hoje, a assistir a dois cortes de 25 pontos base até ao final do ano. Com os juros mais baixos por lá, os estrangeiros pegam dinheiro dos títulos do tesouro americano, considerados “os mais seguros do mundo”, e passam a alocá-lo em outros ativos, aceitando mais riscos.
Além disso, o especialista da XP também cita que o Brasil ganhou espaço na carteira dos investidores internacionais nos últimos dias devido à redução dos riscos internos.
Melhoria no cenário interno
Depois de junho ter sido marcado pelas críticas de Lula à autonomia do Banco Central e pela relativização do tamanho da dívida brasileira (sugerindo menor responsabilidade fiscal), o sétimo mês chegou acompanhado de considerações por parte do governo. Os discursos belicosos ao mercado pararam e o executivo chegou a sinalizar, por exemplo, que cortaria despesas.
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“A temperatura caiu um pouco em relação a esses temas, mas as incertezas permanecem”, reforça.
“O anúncio de que o governo fará cortes de gastos no orçamento no próximo ano contribuiu especificamente para proporcionar alívio em relação às preocupações em torno do ambiente fiscal. Porém, ainda é necessário acompanhar com certa atenção os próximos passos, pois os gastos do governo continuam crescendo acima da inflação”, acrescenta Bruna Sene, analista de pesquisa da Rico.
Com menos risco local, a visão de que as taxas de juros poderão cair ainda mais no futuro no Brasil também abre espaço para que a B3 se torne mais atrativa. Porém, discursos como os de terça-feira (16), onde Lula relativizou mais uma vez a necessidade de responsabilidade fiscal (apaziguada posteriormente), podem ajudar a reverter o cenário.
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Ativos brasileiros baratos
Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos, finalmente menciona o fato dos ativos brasileiros serem baratos, o que também ajuda a atrair fluxos estrangeiros.
“Os descontos nos ativos brasileiros são grandes. Você avaliações são bastante discrepantes a nosso ver, com uma assimetria em relação ao preço da tela”, comenta.
“Ainda existem muitas incertezas relativamente ao cenário macro, mas mesmo os setores mais defensivos e resilientes, que são os que estamos a preferir, são atrativos”, acrescenta o especialista em Family Office.
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