A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou, em sessão desta quarta-feira (17), a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que confere autonomia financeira e orçamentária ao Banco Central, prevendo a retomada do debate sobre o tema em agosto, após o recesso parlamentar.
O adiamento ocorreu a pedido do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), para quem houve avanços nas negociações sobre o tema nos últimos dias, mas o texto ainda “não está completo”. Apoiado por outros membros da comissão, o presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre (União-AP), acatou o pedido.
“Se sairmos dos extremos, do debate político e ideológico, e construirmos um caminho em direção ao centro, que é institucional, é o cerne da proposta, obteremos os 49 votos necessários para aprovar o texto no Senado e 308 no Senado. Câmara”, disse Alcolumbre.
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Nesta semana, o governo sugeriu aos parlamentares que o BC passe a arcar com os custos do programa Proagro de seguro rural caso a instituição saia do Orçamento geral da União conforme previsto na proposta. Atualmente, a autoridade monetária administra o Proagro, que é financiado com recursos do Tesouro.
Fonte com conhecimento do assunto já havia dito à Reuters que a proposta envolvendo o Proagro fazia parte da estratégia do governo de adiar o debate com a inserção de uma espécie de bode na sala, já que sem acordo não haveria votação do texto no CCJ.
Na sessão da comissão, o relator da matéria, senador Plínio Valério (PSD-AM), disse que foi procurado pelo governo com sugestões de alterações no texto apenas nesta quarta-feira, o que inviabilizaria uma análise mais aprofundada.
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Wagner voltou a afirmar nesta quarta-feira que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não é contra a autonomia financeira do BC, mas não concorda com pontos do texto. Uma delas é a transformação da autarquia local em empresa pública.
A interpretação do governo é que a nova regra alteraria a forma como são contabilizados os fluxos de recursos entre o BC e o Tesouro, impactando o resultado primário do governo, o que inviabilizaria o cumprimento do quadro fiscal. Atualmente, o Tesouro cobre eventuais resultados negativos da autoridade monetária, mas os fluxos são registrados como despesas financeiras e não primárias.
Os resultados negativos do BC decorrem principalmente de suas operações cambiais, que são afetadas por contratos de swap e flutuações nas reservas internacionais do Brasil. No ano passado, o resultado do BC foi negativo em 114 bilhões de reais.
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A proposta agora adiada, que vai um passo além da autonomia operacional do BC, em vigor desde 2021, é defendida pela maioria dos conselheiros da autoridade monetária, mas criticada pelo governo Lula.
O texto altera o regime jurídico da autarquia para transformá-la em empresa pública de natureza especial com autonomia orçamental e financeira. Com a medida, o orçamento da agência seria financiado por receitas próprias, deixando de depender de repasses do Tesouro.
Lula vinha criticando reiteradamente o BC e o modelo de autonomia operacional, com foco nos ataques ao presidente da autoridade, Roberto Campos Neto, indicado pelo governo Jair Bolsonaro. O presidente interrompeu as críticas nas últimas semanas em meio a uma rápida desvalorização do real, o que refletiu em parte as incertezas geradas por suas declarações.
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A PEC da autonomia financeira também tem sido alvo de questionamentos do ministro Haddad, que disse em março não concordar com pontos do texto e que o BC deveria ter conversado com o governo antes de defender a proposta.
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