O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse a dois dos advogados do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ)durante reunião cujo conteúdo foi tornado público por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Wizel teria prometido ajudar o filho mais velho do então presidente.
Flávio foi investigado pela suposta prática de “rachadinha” em seu gabinete na época em que ainda era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Na gravação obtida pela Polícia Federal (PF), cujo sigilo foi derrubado por Moraes, Bolsonaro realiza reunião com a participação do general Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, o GSI) e Alexandre Ramagem (ex-chefe do Agência Brasileira de Inteligência, Abin), além das advogadas de Flávio, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach.
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“No ano passado, no meio do ano, me encontrei com o [Wilson] Witzel, não tive novidades [trecho inaudível] o problema é muito pequeno. Ele disse, resolva o caso do Flávio. ‘Dá-me um lugar no Supremo’”, relata Bolsonaro.
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Em seguida, os dois advogados aparecem surpresos e Bolsonaro afirma que a vaga poderia ir para o juiz Flávio Itabaiana, responsável pelas investigações de Flávio.
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Em novembro de 2021, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou todas as decisões de Itabaiana contra Flávio no âmbito dos processos envolvendo o senador.
Na época, a 5ª Turma do tribunal considerou que Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, não poderia ter julgado Flávio, que tinha prerrogativa de foro (deveria ter sido julgado pelo STF, portanto).
Em mensagem publicada em sua conta oficial no Bolsonaro.
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“Simplesmente não havia relacionamento entre mim e a Abin. Minha defesa atacou questões processuais, portanto, não adiantava nada para a Abin”, escreveu Flávio.
Ainda segundo o senador, “a divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, tem apenas o objetivo de prejudicar a candidatura de Delgado Ramagem a prefeito do Rio de Janeiro”.
“Grupo especial de Lula na Polícia Federal é tão cego para inventar crimes contra Bolsonaro que ‘acusa’ a Receita Federal de abrir PAD [Processo Administrativo Disciplinar] contra funcionários que cometeram crime contra mim”, continuou Flávio.
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Em nota, Wilson Witzel rejeitou as declarações de Bolsonaro e afirmou que nunca manteve “nenhuma relação pessoal ou profissional com o juiz Flávio Itabaiana” e que não ofereceu “qualquer tipo de ‘ajuda’ a ninguém” durante seu governo.
“Não foi a primeira vez que [Bolsonaro] ele mencionou conversas que nunca tivemos, seja por confusão mental, dadas as suas inúmeras preocupações, seja porque acreditava que eu faria, em nível local, o que agora se confirma ter sido feito com a Abin e a Polícia Federal”, diz Witzel.
“No meu governo, as Polícias Civil e Militar sempre tiveram total independência e suas atribuições foram respeitadas. A história e tudo o que aconteceu comigo comprovam isso”, finalizou o ex-governador.
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A operação da PF na “Abin paralela”
A gravação obtida pela PF faz parte da investigação sobre o suposto uso da Abin, durante o governo Bolsonaro, para monitorar e espionar políticos, parlamentares, servidores públicos, jornalistas, ministros do STF e autoridades diversas.
Na semana passada, a PF lançou a quarta fase da Operação Last Mile. O objetivo era desmantelar a organização criminosa que monitorava ilegalmente o poder público, além de produzir notícias falsas, utilizando sistemas da Abin.
Segundo a corporação, policiais federais cumpriram 5 mandados de prisão preventiva e 7 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo STF, em Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
“A organização criminosa também acessou ilegalmente computadores, aparelhos telefônicos e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos”, afirma a PF.
Os investigados podem enfrentar acusações de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.
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