Sociedades médicas se uniram para publicar uma nota de esclarecimento sobre um estudo recente que associou medicamentos para perda de peso à base de semaglutida – como Ozempic, Rybelsus e Wegovy – a um risco aumentado de um tipo raro de cegueira chamada Neuropatia Óptica Isquêmica Anterior Não Arterítica (NAION-AT).
Ó declaraçãoassinado pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), foi publicada no último dia 12.
Na nota, as entidades afirmam que analisaram detalhadamente o estudo através dos seus comités científicos, e que tornaram público um parecer dirigido a pessoas com diabetes e obesidade que utilizam, ou pretendem iniciar, tratamento com semaglutida.
“SBD, ABESO, SBEM e SBO reconhecem que, embora seja possível que tenha havido aumento do risco relativo de NAION em pessoas em uso de semaglutida, o aumento do risco absoluto foi muito baixo, e não deve ser motivo para suspensão da medicação”, afirma o documento.
O estudo, publicado na JAMA Ophthalmology no início de julho, mostrou uma relação entre o uso de medicamentos semaglutida e NAION, um tipo de acidente vascular cerebral que causa perda de visão súbita e indolor em um olho.
De acordo com trabalhar, do total de pacientes com doenças neuro-oftalmológicas que realizaram consulta entre 2017 e 2023 (710 pessoas com diabetes e 979 com obesidade), 555 estavam em uso de semaglutida. Nestes, ocorreram 37 casos de NOIA-NA (6,6%). Em 1.134 pessoas com diabetes ou obesidade, não em uso de semaglutida, ocorreram 9 casos de NAION-NAION (0,79%).
Recomendações de entidades
As sociedades recomendam que o exame de retina é realizado rotineira e periodicamente como parte do acompanhamento médico de pessoas com diabetes. Além disso, afirmam que, no caso de pacientes que já fizeram NOIA-NA ou que apresentam perda de visão súbita ou recente, o semaglutida deve ser imediatamente retirada do tratamento e o paciente será submetido a exame oftalmológico o mais rápido possível.
“O uso da semaglutida deverá continuar a ser normalmente indicado em pessoas assintomáticas, mas apenas por médicos, sendo fortemente condenada a sua utilização sem prescrição médica e para perda de peso em pessoas sem obesidade ou excesso de peso com comorbilidades”, destaca a nota.
“Até o momento não há evidências de causalidade entre o uso da semaglutida e o surgimento do NAION. No entanto, aguardam-se novos estudos, especialmente grandes estudos da vida real dedicados a avaliar a saúde ocular em pacientes em uso de semaglutida, para esclarecer esta questão”, acrescenta.
Entidades apontam limitações do estudo
No documento, as entidades reforçam que os resultados do estudo “foram obtidos numa população de risco muito superior, o que limita a validade de extrapolar estes resultados para pessoas da população em geral”. Referem-se ao facto de o estudo ter sido realizado em pacientes que receberam atendimento médico numa clínica especializada em neuro-oftalmologia, e não na população em geral.
Outro ponto considerado pelas entidades é que o estudo foi observacional e não randomizado, “ou seja, as pessoas que usaram semaglutida não foram selecionadas aleatoriamente para receber o medicamento, mas sim escolhidas em prontuários para serem incluídas no estudo de acordo com o uso. anterior. Portanto, não há como afirmar que as pessoas do estudo que usaram semaglutida realmente tiveram um risco de NAION semelhante ao das pessoas que não receberam semaglutida”, afirmam.
O documento destaca ainda que fatores de risco como tabagismo, tempo de diabetes e morfologia do disco óptico não foram levados em consideração pelo estudo.
“Se o grupo que recebeu semaglutida tivesse maior número de fatores de risco no início do estudo, isso obviamente explicaria o maior número de casos de NAION nesse grupo. Portanto, não é possível concluir sobre a existência de relação de causa e efeito entre o uso de semaglutida e o surgimento de NAION neste estudo. Não há como afirmar, com esses dados, que a semaglutida tenha causado aumento de casos de NAION”, afirmam as entidades.
Remédios para diabetes e obesidade podem aumentar risco de cegueira rara
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