O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, nesta segunda-feira (15), em Brasília (DF), o presidente da Itália, Sérgio Mattarellae reafirmou que o Brasil pretende concluir o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
Em declaração conjunta à imprensa, após reunião com o líder italiano, Lula disse esperar que o acordo seja finalmente finalizado em breve.
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Costurados desde o final dos anos 1990, o acordo comercial entre os dois blocos teve sua primeira etapa concluída em 2019, ainda no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Desde então, os termos passaram pela fase de revisão pelos países envolvidos, mas pouco progresso foi feito até agora.
“Como fiz na recente Cúpula do Mercosul em Assunção [Paraguai], reiterei ao presidente italiano o interesse do Brasil em concluir, o mais rápido possível, um acordo com a União Europeia que seja equilibrado e contribua para o desenvolvimento de ambas as regiões. Expliquei que o progresso nas negociações depende dos europeus resolverem as suas próprias contradições internas”, afirmou Lula em seu discurso.
“Medidas como o imposto sobre carbono imposto unilateralmente pela União Europeia poderão afetar cinco dos dez produtos brasileiros mais exportados para o mercado italiano. A redução das emissões de CO2 é imprescindível, mas não deve ser feita com base em medidas unilaterais que impactarão a vida dos produtores brasileiros e dos consumidores italianos”, continuou Lula.
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Sobre a visita do presidente da Itália ao Brasil, Lula afirmou que ela representa “o ponto alto da comemoração dos 150 anos da imigração italiana, que tornou para sempre indissociáveis as trajetórias dos nossos países”.
“Esses laços são reforçados por meio de demonstrações de amizade e solidariedade, como ocorreu em relação às enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. Agradecemos muito a doação de 25 toneladas de ajuda humanitária que recebemos do governo da Itália”, agradeceu. o presidente brasileiro.
O fluxo comercial precisa aumentar
Em seu discurso, Lula disse que o fluxo comercial entre as economias brasileira e italiana ainda está aquém do potencial e da força dos dois países no cenário global.
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“Itália e Brasil estão entre as dez maiores economias do mundo. Dois países desse porte devem ter um fluxo de comércio e investimentos à altura da sua riqueza”, afirmou o brasileiro.
“O nosso fluxo comercial, no valor de aproximadamente 10 mil milhões de dólares, só agora regressou aos níveis registados há uma década. Compartilhei com o presidente Mattarella o desejo de diversificar a agenda e aumentar as exportações brasileiras”, defendeu Lula.
G20, guerras e combate à fome
Em seu discurso durante a cerimônia, o Presidente da República destacou que o Brasil preside atualmente o G20 – grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana – e a Itália está à frente do G7 .
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“Na presidência do G20 e do G7, respectivamente, Brasil e Itália têm a oportunidade de liderar a busca de soluções para problemas comuns”, afirmou Lula.
“A guerra na Ucrânia e o conflito em Gaza mostram que desistir do diálogo e da diplomacia leva a consequências nefastas”, continuou o presidente, aludindo aos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia e entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Lula finalmente lembrou que a Itália, como país anfitrião da FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] e o Programa Alimentar Mundial, “convidou o Brasil a participar do Grupo de Trabalho do G7 sobre Segurança Alimentar”.
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Leia a íntegra do discurso de Lula:
“É uma grande satisfação poder retribuir a hospitalidade com que fui recebido na Itália, pelo Presidente Mattarella, no ano passado.
Este ano, mais uma vez, por ocasião do G7, fui recebido generosamente pela Primeira-Ministra Giorgia Meloni.
O presidente Sergio Mattarella vem ao Brasil pela primeira vez em um momento particularmente auspicioso.
Esta visita representa o ponto alto da celebração dos 150 anos da imigração italiana, que tornou para sempre indissociáveis as trajetórias dos nossos países.
Esses laços são reforçados por meio de manifestações de amizade e solidariedade, como ocorreu em relação às enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul.
Estamos muito gratos pela doação de 25 toneladas de ajuda humanitária que recebemos do governo italiano.
O material doado certamente amenizou a enorme perda sofrida pela população do Rio Grande do Sul, que compreende grande parte dos mais de 35 milhões de descendentes de italianos no Brasil.
Na presidência do G20 e do G7, respectivamente, Brasil e Itália têm a oportunidade de liderar a busca de soluções para problemas compartilhados.
Na reunião de hoje discutimos alguns dos desafios complexos da atualidade.
Expressei a minha satisfação com a vitória das forças progressistas nas recentes eleições no Reino Unido e em França. Ambos são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as ameaças do extremismo.
A guerra na Ucrânia e o conflito em Gaza mostram que desistir do diálogo e da diplomacia tem consequências prejudiciais.
País sede da FAO e do Programa Alimentar Mundial, a Itália convidou o Brasil a participar do Grupo de Trabalho do G7 sobre Segurança Alimentar.
Retribuí a confiança convidando a Itália a aderir à Aliança Global de Combate à Fome e à Pobreza que lançaremos no Brasil por ocasião do G20.
O pioneirismo italiano em mecanismos de troca de dívida por alimentos será muito valioso para a nossa iniciativa.
Outra causa que nos une é a transição justa, especialmente a convicção no potencial da bioenergia.
Continuaremos trabalhando juntos na Aliança Global para Biocombustíveis lançada no ano passado, na Índia, para disseminar o conhecimento e a tecnologia necessários para ampliar o uso desta alternativa.
Itália e Brasil estão entre as dez maiores economias do mundo.
Dois países desta estatura devem ter um fluxo de comércio e investimento que corresponda à sua riqueza.
O nosso fluxo comercial, no valor de aproximadamente 10 mil milhões de dólares, só agora regressou aos níveis registados há uma década.
Compartilhei com o presidente Mattarella o desejo de diversificar a agenda e aumentar as exportações brasileiras.
A breve retomada do Conselho de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Industrial e Financeiro Brasil-Itália poderá contribuir muito nesse sentido.
Tal como fiz na recente Cimeira do Mercosul, em Assunção, reiterei ao presidente italiano o interesse do Brasil em concluir, o mais rapidamente possível, um acordo com a União Europeia que seja equilibrado e contribua para o desenvolvimento de ambas as regiões.
Expliquei que o progresso nas negociações depende de os europeus resolverem as suas próprias contradições internas.
Medidas como o imposto sobre carbono imposto unilateralmente pela União Europeia poderão afetar cinco dos dez produtos brasileiros mais exportados para o mercado italiano.
A redução das emissões de CO2 é imperativa, mas não deve ser feita com base em medidas unilaterais que impactarão a vida dos produtores brasileiros e dos consumidores italianos.
A Itália é uma importante fonte de investimentos para o Brasil – as quase 1.500 empresas italianas localizadas aqui geram mais de 150 mil empregos diretos.
Desde o início deste mandato temos trabalhado para atrair ainda mais investimentos. Vemos um interesse renovado no Brasil por parte da indústria automotiva.
No ano passado, o grupo Stellantis, resultante da fusão da Fiat Chrysler e Peugeot, anunciou 30 bilhões de reais para modernizar e ampliar suas fábricas no Brasil.
É o maior investimento na indústria automotiva de toda a América do Sul.
Um sector em que a Itália já está bem posicionada é o da energia. Os parques eólicos e fotovoltaicos das empresas italianas e o seu interesse no hidrogénio verde mostram o potencial a ser explorado nesta área.
Um exemplo é o investimento de mais de 2 bilhões de reais no Complexo Eólico Aroeira, na Bahia, feito pela Enel.
Abrir novas frentes de cooperação não significa abandonar a nossa colaboração tradicional em outras áreas.
No passado, a cooperação tecnológica no desenvolvimento do caça AMX permitiu à Embraer dar um salto na produção de jatos.
Hoje, a empresa consegue colaborar com a Força Aérea Italiana através do fornecimento de aeronaves C-390 Millenium.
A maior força motriz por trás dos laços entre a Itália e o Brasil são as nossas sociedades.
E é do nosso interesse aproximá-los através de medidas simples que apoiem este intercâmbio.
Por isso, congratulo-me com a assinatura, hoje, de um acordo sobre o reconhecimento recíproco das cartas de condução.
Espero que este instrumento incentive o turismo e os negócios e facilite a rotina dos brasileiros que moram na Itália e dos italianos que moram no Brasil.
A USP e a EMBRAPA também assinaram hoje Memorandos de Entendimento com a Universidade de Torino nas áreas de cooperação acadêmica e pesquisa em segmentos da cadeia agroalimentar.
Em 2007, durante meu segundo mandato, assinamos uma parceria estratégica que deu novo impulso à relação Brasil-Itália.
Quero que esta visita represente a renovação desta parceria, inaugurando um período de contato intenso e dinâmico entre o Brasil e a Itália.
O presidente Mattarella também viajará ao Rio Grande do Sul e visitará Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador em sua primeira visita ao Brasil.
Tenho certeza de que vocês conseguirão ter uma boa perspectiva da diversidade, das riquezas culturais, naturais e do potencial do nosso querido Brasil.
Muito obrigado.“
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