Quatro anos depois dos incêndios devastadores que incineraram cerca de 30% do Pantanal brasileiro, o fogo volta a ameaçar as espécies animais que vivem na região, considerada um santuário de biodiversidade e patrimônio natural da humanidade.
Enquanto bombeiros, bombeiros, militares e voluntários tentam apagar as chamas, biólogos, veterinários e outros profissionais se dedicam a minimizar o sofrimento dos animais.
“O fogo é um fator estressante para a biodiversidade. Devemos ter muito cuidado, pois é difícil prever quanto tempo durará toda essa abundância em termos de fauna e flora até começarmos a perder espécies de forma irreparável para esses intensos incêndios, que queimaram repetidas vezes as mesmas áreas”, disse o biólogo Wener. Hugo Arruda Moreno, do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organização não governamental (ONG) que atua na conservação e preservação do Pantanal desde 2002.
O instituto é uma das organizações da sociedade civil que integra o Grupo Técnico de Resgate de Animais do Cerrado Pantanal (Gretap), juntamente com representantes de órgãos, entidades e instituições de Mato Grosso e de estados da federação, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos. Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O grupo foi constituído em abril de 2021, na sequência dos incêndios que se seguiram à grande seca de 2019 e 2020, a mais severa registada em 50 anos. A Gretap é responsável por monitorar, avaliar, resgatar e prestar assistência aos animais afetados por possíveis desastres ambientais em Mato Grosso do Sul.
A partir da experiência de seus integrantes, em maio deste ano, parte do grupo viajou para o Rio Grande do Sul, onde participou do resgate e cuidado de animais domésticos e silvestres atingidos pelas recentes enchentes no estado.
Um estudo que pesquisadores brasileiros publicaram em dezembro de 2021, na revista Scientific Reports, estima que, em 2020, os incêndios no Pantanal mataram diretamente cerca de 17 milhões de animais vertebrados.
A mortalidade foi maior entre pequenas cobras (especialistas estimam que 9,4 milhões delas morreram) e pequenos roedores (3,3 milhões). Aproximadamente 1,5 milhão de aves morreram por queimaduras, envenenamento ou, mais tarde, por fome. As chamas ou suas consequências também ceifaram a vida de 458 mil primatas, 237 mil crocodilos e 220 mil tamanduás.
Ainda é cedo para dizer se a tragédia se repetirá este ano, em dimensões semelhantes. Porém, as autoridades já reconhecem que o número de focos de incêndio registrados no bioma ao longo do primeiro semestre deste ano é o maior para o período nos últimos 26 anos, superando inclusive o resultado de 2020.
Mapbiomas
Além disso, segundo a rede Mapbiomas, junho deste ano registrou a maior média de área queimada para um mesmo mês desde 2012. A marca superou a média histórica de setembro, mês em que os focos de calor tendem a se intensificar, dada a persistência do tempo seco.
“Aqui no Mato Grosso do Sul nosso trabalho se intensificou muito recentemente, principalmente no último mês”, disse Moreno.
“Estamos frequentemente indo para as áreas pantanosas afetadas pelos incêndios. Verificamos o ambiente e verificamos se os animais estão retornando para áreas debilitados, ou se as espécies que ali permanecem têm refúgios para obter os recursos necessários à sobrevivência. Observamos muitas carcaças de répteis, pequenos roedores e anfíbios, mas ainda estamos iniciando o processo de contagem”, disse Moreno. Ele destacou a rapidez com que o fogo se espalhou pela vegetação, que nesta época do ano costuma ser bastante seca.
“O Pantanal não é para amadores. É preciso conhecer bem a área, saber como se formam os corredores de propagação do fogo. O fogo é assustador. A velocidade com que avança e o tamanho da área atingida impressionam. Combater as chamas e proteger a vida selvagem é um trabalho difícil.”
Segundo Moreno, antes de ir a campo, os agentes precisam fazer um diagnóstico preliminar da área, por meio de drones e ferramentas de geoprocessamento.
“Temos que esperar entre 48 e 72 horas após o término das chamas para podermos deslocar uma equipe para determinado local, sob risco de deixar pessoas em perigo”, acrescentou Moreno, destacando os riscos da atividade.
“Daí a sensação de alívio que sinto quando localizamos um animal que, apesar de tudo, não precisa de resgate, basta monitorá-lo e, se necessário, complementar sua alimentação até que a vegetação se recupere.”
Veja imagens dos incêndios no Pantanal
No final do mês passado, o fotógrafo da Agência Brasil, Marcelo Camargo, passou dias acompanhando os bombeiros no combate às chamas. Camargo presenciou e registrou o sofrimento animal e a devastação da vegetação pantaneira. Na manhã do dia 30, enquanto se deslocavam de helicóptero para uma área de difícil acesso, as equipes avistaram um tuiuiú, ave símbolo do Pantanal, pousado no topo de uma grande árvore, no meio de uma área que estava ainda fumando. Olhando mais de perto, notaram que o animal parecia estar protegendo seus ovos, num ninho construído entre os galhos mais altos.
“Seria o primeiro dia de ação da equipe de brigadistas quilombolas da comunidade Kalunga, em Cavalcante [GO], na região. Estávamos a caminho de uma área de mata densa e com grande número de incêndios, a cerca de 50 quilômetros de Corumbá [MS]. Durante o trajeto, o piloto do helicóptero avistou o tuiuiú e identificou o ninho, no alto da árvore, com pelo menos três ovos dentro. Ainda havia uma mancha de fogo ao redor da árvore, que soltava fumaça. Os pilotos sobrevoaram o local para marcar as coordenadas [de geolocalização], para que os brigadistas pudessem tentar acessar o local em outro momento. Consegui então registrar minhas primeiras imagens”, disse Camargo ao retornar a Brasília.
“Continuamos em direção ao nosso destino, de onde os brigadistas tiveram que percorrer a densa floresta. Demorou cerca de duas horas só para chegarmos à origem do incêndio. E depois de muitas horas, no horário combinado para o helicóptero nos resgatar, não havíamos conseguido chegar perto do local onde avistamos o tuiuiú”, relatou o fotógrafo da Agência Brasil.
Durante o vôo de volta para Corumbá tirei mais algumas fotos. Havia pelo menos um pássaro, aparentemente guardando o ninho. Outras pessoas, em outras aeronaves, disseram ter visto dois pássaros adultos, um casal, mas eu não vi isso. Na manhã seguinte, o piloto do primeiro helicóptero que passou pelo local não encontrou mais a árvore em pé. Mais tarde, quando consegui um lugar num avião, consegui identificar parte da árvore caída no chão e o ninho, aparentemente queimado, ali perto”, continuou.
Uma família de bugios teve um pouco mais de sorte. Ou muito mais sorte, considerando que, apesar de terem sido expulsos do bando e terem dificuldades para encontrar comida, não sofreram ferimentos e estão recebendo ajuda dos integrantes do Gretap, conforme relatou o biólogo do Instituto do Homem Pantaneiro.
“Recebemos a ligação de uma senhora, ribeirinha, que achou que a fêmea havia sofrido queimaduras e precisava de cuidados. Ao chegarmos ao local, na região da Baía do Castelo, à margem direita do rio Paraguai, a cerca de duas horas de barco de Corumbá, encontramos um grupo de bugios e macacos noturnos. Somente na segunda tentativa localizamos, isoladamente, a fêmea que procurávamos”, disse Wener Hugo Arruda Moreno.
“Ela não teve queimaduras. Era o seu cachorrinho, um recém-nascido, muito magro e fraco, que a segurava. Além da fêmea com seu filhote, havia um macho. Muito provavelmente, os três foram expulsos do grupo por falta de recursos. Nestes casos, nossa estratégia é monitorar os animais. Administramos algumas frutas, uma alimentação básica e instalamos câmeras no local para observarmos se o rebanho aceitará o alimento”, finalizou.
Devastação
Coordenadora operacional do Grupo Técnico de Resgate de Animais do Cerrado Pantanal (Gretap), a bióloga e veterinária Paula Helena Santa Rita reforça que as consequências de mais uma temporada descontrolada de incêndios estão sendo “devastadoras” para os animais.
“Para a fauna, as consequências são as piores possíveis. Vão desde a morte direta de animais, por meio da incineração e inalação de fumaça e fuligem, até mortes subsequentes, por falta de alimento e outras questões, podendo até, no limite, interferir na questão da reprodução das espécies, caso haja uma perda de um número significativo de indivíduos”, explicou Paula.
“Alguns fatores, como a própria ação humana, se juntaram e tivemos a antecipação [ocorrência] De fogo. Nós [do Gretap] Estamos monitorando a situação, principalmente nos locais onde o fogo já passou, e prestando suporte nutricional básico quando necessário. Também deslocamos alguns animais que encontramos perto das áreas de incêndio”, finalizou o coordenador do Gretap.
Compartilhar:
o que emprestimo consignado
emprestimo consignado manaus
como funciona o emprestimo consignado
o que é emprestimo consignado
juros empréstimo consignado
financeira bmg telefone
o que empréstimo consignado
empréstimo servidor público
emprestimos bh
empréstimos bh
emprestimo consignado publico
emprestimos consignados o que é