Durante seis anos, pesquisadores do Museu de História Natural da Flórida, nos Estados Unidos, realizaram tomografias computadorizadas de mais de 13 mil espécies de vertebrados. As imagens digitalizadas foram usadas para criar reconstruções 3D de alta resolução de detalhes das estruturas internas dos animais.
A tecnologia permite a “dissecção” de peixes, anfíbios, répteis e mamíferos, sem a necessidade de cortar os animais. Os dados estão disponíveis online e gratuitamente para estudantes e pesquisadores. O projeto denominado openVertebrate (oVert), que conta com a colaboração de 18 instituições, recebeu financiamento de US$ 3,6 milhões. Detalhes sobre a iniciativa foram publicados na revista BioScience.
“A maioria dos museus pode exibir algumas das suas coleções ao público, mas a grande maioria das suas coleções permanece nos bastidores para serem utilizadas pelos cientistas. Com a digitalização, conseguimos disponibilizá-lo não só para pesquisadores, mas também para educadores, animadores, artistas e interessados em animais”, disse. CNN Edward Stanley, co-investigador principal do projeto oVert e cientista associado do Museu de História Natural da Flórida.
Morte rara de cobras, sapos que saltam errado e dinossauros nadadores ruins
A dissecação digital já permitiu aos pesquisadores descobrir alguns fatos até então desconhecidos pela ciência. Uma das análises concluiu que uma cobra-coroa-das-rochas, considerada a espécie de cobra mais rara da América do Norte, morreu asfixiada após comer uma centopéia maior do que era capaz de ingerir.
Outra descoberta foi que as rãs perderam e recuperaram dentes mais de 20 vezes ao longo da sua história evolutiva.
Ainda segundo o museu, outro estudo concluiu que o Spinosaurus, um dinossauro maior que o tiranossauro Rex e considerado o primeiro dinossauro totalmente aquático, teria sido, na verdade, um péssimo nadador. A reconstrução do esqueleto com base na tomografia computadorizada dos fósseis mostrou que o animal provavelmente permaneceu em terra.
A varredura também mostrou que os sapos conhecidos como sapos-abóbora tornaram-se tão pequenos ao longo da evolução que os canais cheios de líquido em seus ouvidos, que dão equilíbrio ao animal, não funcionavam mais adequadamente – o que explica por que eles caem ao pular.
A tecnologia também rendeu novas descobertas para a fauna brasileira. O biólogo Marcio Pie, hoje professor da Edge Hill University, no Reino Unido, encontrou dois sapos desconhecidos da Mata Atlântica, dois no estado do Paraná e outro em Santa Catarina. Eles são do mesmo gênero dos sapos-abóbora, que são péssimos saltadores.
Os animais em conserva foram enviados ao Museu de Natureza da Flórida, onde foram escaneados. As características vistas nas imagens 3D mostraram que se tratava de três novas espécies, denominadas Braquicefalus coloratus, Braquicéfalo curupira Isso é Braquicefalus albolineatus.
Esses anfíbios têm apenas 1 centímetro de comprimento, tamanho que dificulta não só o salto, mas também a identificação das estruturas internas em uma dissecação destrutiva, como é chamada quando o animal é aberto.
“Isso mostra que a tomografia microcomputadorizada pode ser uma ferramenta fundamental para ajudar a descrever novas espécies e descobrir mais sobre a nossa biodiversidade”, disse o biólogo brasileiro ao CNN.
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