A Polícia Civil investiga a morte de um paciente em uma clínica de reabilitação em Cotia (SP), após a divulgação de um vídeo em que ele aparece amarrado a uma cadeira. O relatório da autópsia da vítima, que CNN teve acesso, mostra que o homem apresentava lesões em diversas partes do corpo e com datas diferentes.
O exame não revela a causa da morte, mas é interpretado pelos agentes como um indício de que o interno da Comunidade Terapêutica Efatá não foi agredido em um único dia. Em entrevista com CNNa delegada Marcia Ianotti, do 1º Distrito Policial (DP), afirma que os resultados reforçam a acusação de que Jarmo Celestino De Santana, de 55 anos, foi torturado durante dias.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) aponta que as manchas arroxeadas, esverdeadas e amareladas são hematomas de diversas ocasiões. A vítima foi encontrada com ferimentos em diversas partes do corpo: mandíbula, crânio, braço, tórax, abdômen, pernas e costas. Internamente, o exame identificou hematomas no cérebro e lesões no fígado.
O exame toxicológico é aguardado pelos agentes para esclarecer o óbito. A principal linha de investigação da Polícia é entender quem são os envolvidos na agressão e qual foi a participação de cada um no ocorrido.
Os quatro homens que aparecem no vídeo foram entrevistados pela polícia, assim como os proprietários da clínica, Cleber Fabiano Da Silva e Terezinha de Cassia de Souza Lopes da Conceição. O funcionário e autor da gravação, Matheus De Camargo Pinto, de 24 anos, continua em prisão preventiva —sua mão também prestou depoimento. Matheus já foi paciente de clínicas de reabilitação e já trabalhava há alguns dias no estabelecimento.
Cleber e sua esposa, Terezinha de Cassia de Souza Lopes da Conceição, também proprietária da clínica, devem ser ouvidos pela Polícia Civil nesta quinta-feira (11). Funcionários da Comunidade Terapêutica Efatá serão investigados para apurar participação ou omissão em tortura. Os homens que aparecem rindo no vídeo e os donos do local serão ouvidos. Os internos foram transferidos para outras clínicas.
Entenda o caso
O paciente de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos de Cotia, na Grande São Paulo, Jarmo Celestino De Santana, de 55 anos, morreu nesta segunda-feira (8), após ser amarrado a uma cadeira e filmado por funcionários do estabelecimento.
No vídeo, o monitor da clínica, Matheus De Camargo Pinto, 24 anos, mostra a vítima sem camisa e com os braços presos atrás do encosto da cadeira e diz: “Mais um ali, na unidade ali, Efatá ali, acompanhamento…”Quatro homens riem da situação. As imagens foram tiradas na sexta-feira (5). Veja o vídeo:
Na segunda-feira (8), a Guarda Civil Municipal (GCM) foi acionada para atender uma ocorrência de lesão corporal no local e encaminhou Matheus e o enfermeiro Cleber Fabiano da Silva à Delegacia de Cotia (SP) para esclarecer o caso.
O homem que aparece nas imagens foi levado a um posto de saúde da cidade de Vargem Grande do Sul (SP) e morreu durante o incidente. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirma que o vítima não sobreviveu aos ferimentos.
Na delegacia, Matheus confessou ter gravado o vídeo. A Polícia Civil também acessou o celular do terapeuta e encontrou um áudio que ele enviou para o perfil “Danny vovó criminosa”, no qual ele admite a agressão: Cobri pra caramba, cobri pra caramba… chegou aqui na unidade FI… paguei com raiva… cobri pra caramba. Minha mão está toda inchada. Os celulares dele e de Cleber foram apreendidos. Ouça o áudio:
O caso foi registrado como tortura qualificada resultando em morte, de acordo com o relatório do incidente. Matheus foi preso em flagrante. No incidente, verifica-se que o funcionário utilizou violência para submeter a vítima, que estava sob seus cuidados, a intenso sofrimento físico ou mental.
Em entrevista com CNNO delegado Adair Marques afirmou que Matheus disse que “usou algumas vezes a força para conter a vítima, que ele foi agressivo e teve alguns acessos de raiva”.
Clínica fechada
Nesta terça-feira (09), a Prefeitura de Cotia informou ao CNN que a clínica era clandestina, funcionava sem documentação e que outros internos foram identificados com indícios de maus-tratos. Nesta quarta-feira (10), o órgão voltou atrás e afirmou que o estabelecimento obteve licença para funcionar de todos os órgãos responsáveis, mas foi fechado e teve sua licença cancelada após o caso.
“Em uma análise mais detalhada, encontramos um paciente com baixo potássio e outro com hipertensão e necessitando de cuidados devido ao Alzheimer. Ambos foram encaminhados para atendimento médico, o que descartou abuso”, afirma a nota.
Em entrevista com CNN, Cleber Fabiano Da Silva, proprietário da clínica, disse não ter conhecimento das agressões e que prestaria mais esclarecimentos à polícia. Terezinha Cordeiro De Azevedo, advogada do investigado, condena as agressões de Matheus, nega qualquer ligação entre o estabelecimento e maus-tratos e defende a legalidade da clínica.
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