O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, argumentou nesta sexta-feira (12) que a expansão fiscal neste momento não é boa para o Brasil, e afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cortará gastos primários para ajustar as contas públicas se for necessário.
Durante audiência no Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo, Haddad destacou que Lula “já anunciou” que, se necessário, promoverá cortes de gastos.
Segundo ele, o equilíbrio das contas públicas permitirá a queda dos juros e o crescimento da economia.
“Estamos produzindo um déficit desde 2015, ou 2014, e um déficit pesado”, disse Haddad em seu discurso. “Minha pergunta é: melhorou a vida de alguém?”
Defendeu a continuação do “trabalho de formiguinha com resultados notáveis” que a equipa económica tem feito a favor do ajustamento fiscal, qualificando de “obsessão” o objectivo de equilíbrio das contas.
Reafirmou ainda a sua posição favorável à revisão do cumprimento dos critérios de recebimento de benefícios sociais e inscrição em programas como “imperativo da moralidade pública”, lamentando que “se tornou pecado rever o que é correto”.
Os comentários de Haddad reforçam o discurso mais moderado adotado pelo governo desde quarta-feira (3) da semana passada, quando Lula passou a evitar críticas diretas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e ao atual patamar da taxa básica de juros Selic, uma vez demonstrando novamente a intenção de promover o ajuste fiscal, mesmo que isso implique corte de gastos.
Desde então, os ativos brasileiros reagiram positivamente, embora no mercado haja expectativa de anúncio de medidas concretas para orientar as contas públicas em direção à meta de resultado primário zero este ano.
No dia 22 de julho, o governo apresentará relatório com diagnóstico e possíveis cortes para cumprimento da meta fiscal.
Haddad também negou durante a audiência ter convencido Lula a diminuir a tensão com o Banco Central, mas afirmou que conversou com o presidente sobre rumores a respeito do quadro fiscal.
No auge do barulho, antes que o tom de Lula se moderasse, circularam no mercado rumores de que o governo iria descuidar do cumprimento do marco fiscal, o que foi posteriormente negado pelo governo.
“A discussão com o presidente Lula foi que começou um boato no mercado sobre a questão do marco fiscal”, explicou o ministro. “Isso era tudo o que estava sendo discutido.”
Por outro lado, Haddad disse que Lula tinha “certos motivos” para estar insatisfeito com as atitudes do BC e afirmou que o presidente não foi o único.
Sem entrar em detalhes, porém, Haddad disse que a questão foi superada e elogiou a atual diretoria do município.
Em sua última reunião de política monetária, em junho, o BC decidiu interromper o ciclo de redução de juros e manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano, o que na época foi fortemente criticado por Lula.
Reintegração da folha de pagamento
Durante a audiência, Haddad afirmou ainda que, com base no parecer da Receita Federal, não pode aceitar a proposta do Senado de aumento gradual da folha salarial como forma de compensar a prorrogação da isenção.
Segundo ele, as medidas apresentadas pelo Senado, na avaliação da Receita, não compensam a isenção de setores.
Haddad lembrou ainda que uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou medidas de compensação pela receita perdida com o benefício.
O ministro disse que o Tesouro propõe, como complemento à compensação de isenção, uma alíquota gradual da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) afetando todos os setores.
Segundo o ministro, a ideia permite diluir o preço da isenção em toda a sociedade, sem prejudicar nenhum setor específico.
Ele avaliou que a proposta de cobrança de compensações ao setor financeiro teria impacto no crédito e seria “muito desfavorável ao crescimento econômico neste momento”.
Voltou a salientar, porém, que a posição oficial do Ministério da Fazenda é de que a desoneração da folha de pagamento não deve ser prorrogada, avaliando que se trata de uma política que “não funcionou”.
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