A Polícia Federal (PF) lançou, nesta quinta-feira (11), a quarta fase da operação Last Mile, que investiga suposta espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A operação ocorreu para desmantelar uma organização criminosa responsável por monitorar ilegalmente autoridades públicas e produzir notícias falsas utilizando sistemas da Abin.
Segundo a PF, integrantes dos Três Poderes e jornalistas foram alvos das ações do grupo, incluindo a criação de perfis falsos e a divulgação de notícias falsas.
A organização também acessou ilegalmente computadores, aparelhos telefônicos e infraestrutura de telecomunicações para monitorar pessoas e agentes públicos.
A CNN A seguir, mostramos alguns pontos para entender os principais achados sobre a chamada “Abin paralela”.
Quais eram os alvos do grupo?
Segundo investigações da PF, a espionagem ilegal por meio de sistemas da Abin atingiu as seguintes pessoas (veja abaixo seus respectivos posicionamentos sobre o caso):
Poder judicial:
- Luís Roberto Barroso, presidente do STF: não comentará;
- Alexandre de Moraes, Ministro do STF: não comentará;
- Toffoli Dias, Ministro do STF: não comentará;
- Isso é Luiz Fux, Ministro do STF: não comentará.
Poder Legislativo:
- Arthur Lira (PP-AL), Presidente da Câmara dos Deputados: não comentou;
- Rodrigo Maia (PSDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados: “A espionagem com uso do aparato estatal sobre pessoas consideradas adversárias do ex-presidente é comportamento de um governo totalitário e criminoso, típico das piores ditaduras”;
- Kim Kataguiri (União-SP), deputado federal: “Mais uma prova dos equipamentos criados pelo governo Bolsonaro em instituições para perseguir seus adversários políticos. Aqueles que hoje se dizem vítimas da perseguição petista não pensaram duas vezes antes de fazer o mesmo quando estavam no poder. Tomarei as medidas legais cabíveis e esta perseguição contra mim e meus assessores não ficará impune”;
- Joice Hasselmann (Podemos-SP), então deputado federal: não comentou;
- Alessandro Vieira (MDB-SE), senador: “A operação da PF de hoje mostra que fui vítima de espionagem criminosa e ataques online realizados por criminosos no poder no governo passado. Isto é típico de governos ditatoriais. O Brasil ainda está cheio de problemas, mas pelo menos estamos livres do risco de uma volta à ditadura”;
- Omar Aziz (MDB-AM), senador: não comentou;
- Renan Calheiros (MDB-AL), senador: não comentou;
- Isso é Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), senador: “A violação dos direitos fundamentais à vida privada, à honra e ao sigilo pessoal nos remete às páginas mais autoritárias e sombrias da história do Brasil e da humanidade. Quaisquer indícios de violação destes direitos devem ser rigorosamente investigados e punidos. O fato de, além do meu acompanhamento pessoal, também terem sido acompanhados os demais colegas, Omar Aziz e Renan Calheiros, tem significado diagnóstico. Juntos, rodamos a CPI da Covid, o que acrescenta uma tragédia ainda maior à situação. Enquanto morriam brasileiros, o governo anterior se preocupava em espionar a vida daqueles que investigavam as razões do genocídio em curso.”
Poder Executivo
- João Doria (sem festa), ex-governador de São Paulo: não comentou;
- Hugo Ferreira Netto Perda, Servidor Ibama: não comentou;
- Roberto Cabral Borges, Servidor Ibama: não comentou;
- Christiano José Paes Leme Botelho, Auditor da Receita Federal: não comentou;
- Cléber Homen da Silva, Auditor da Receita Federal: não comentou;
- Isso é José Pereira de Barros Neto, Auditor da Receita Federal: não comentou.
Jornalistas
- Mônica Bérgamo: “Ainda tentando entender como fui monitorado”;
- Vera Magalhães: não falou;
- Luiza Alves Bandeira: não falou;
- Isso é Pedro César Batista: não falou.
Quem eram os prisioneiros?
A operação da PF teve como alvo um militar do Exército, um agente da PF, um empresário e um ex-assessor da Secretaria de Comunicação Social do governo Bolsonaro.
Veja os alvos dos mandados de prisão e busca:
- Mateus de Carvalho Sposito, ex-assessor da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência;
- Richards Dyer Pozzerpessoa de negócios;
- Marcelo Araújo BormevetAgente da PF,
- Giancarlo Gomes RodriguesSoldado do Exército;
- Isso é Rogério Beraldo de Almeidainfluenciador digital.
Alvos de busca e apreensão:
- José Matheus Sales Gomes;
- Daniel Ribeiro Lemos.
O militar Giancarlo Gomes Rodrigues, que foi preso, era assessor do então diretor da Abin Alexandre Ramagem, que atualmente é deputado federal (PL-RJ). Ele é casado com uma funcionária do órgão e foi alvo da PF na última fase da operação, em janeiro.
A PF aponta que ele foi um dos responsáveis pelo monitoramento ilegal do então presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia e da então deputada Joice Hasselmann.
O segundo alvo preso é o agente da PF Marcelo Araújo Bormevet, cedido à Abin, que já era da Casa Civil no governo anterior. O agente também atuou como segurança de Bolsonaro quando ele era candidato à presidência em 2018. Bormevet está afastado do cargo desde janeiro, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
Mateus Sposito, que era assessor da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) e foi alvo da CPI da Covid por supostamente participar de um “gabinete do ódio”. A PF aponta a ligação dos integrantes da Secom com a chamada “Abin paralela” pela criação de perfis falsos e disseminação de informações falsas contra opositores ao governo.
O empresário Richards Dyer Pozzer, por sua vez, é suspeito de divulgar essa fake news, e chegou a ser indiciado pela CPI da Covid.
O influenciador digital Rogério Beraldo de Almeida é acusado de divulgar informações falsas e criar perfis falsos.
Assessor de Ramagem ataca assessor de Barroso
O policial federal Marcelo Bormevet ordenou que seu subordinado, o soldado do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, mandasse “bala” e “sentasse” [sic] em assessoria do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.
Segundo relatório da PF, o diálogo ocorreu em 2021, quando Barroso era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O documento afirma que a citação a Barroso foi desencadeada por uma publicação no .
Em conversa no Whatsapp com Giancarlo, Marcelo Bormevet afirma: “Estou assistindo o (sic) KIM Paim de hoje. Ele disse que o assessor de Barroso já está sendo investigado. Temos que dificultar a vida deste conselheiro.” “Mandem balas”, acrescenta Bormevet.
Acusado falou sobre “Moraes levar tiro na cabeça”
A PF identificou uma conversa entre Bormevet e Giancarlo em que afirmavam que o ministro do STF Alexandre de Moraes merecia “algo mais”: um “tiro na cabeça”. A expressão significa “tiro na cabeça” e é frequentemente usada por jogadores de jogos de tiro.
Os comentários foram feitos após Moraes, em agosto de 2021, afastar o delegado da PF Victor Neves Feitosa Campo de uma investigação sobre um suposto ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após vazamento de informações confidenciais das investigações.
“Isso está ficando fodido. Esse careca merece algo mais (sic)”, disse Giancarlo, conforme transcrição da conversa no documento.
Bormevet respondeu: “Apenas 7,62 (sic)”, referindo-se a um fuzil.
Giancarlo acrescentou então: “Tiro na cabeça”. A expressão significa “tiro na cabeça”.
“Nosso PR inacessível já assinou a porra do decreto?”
Bormevet perguntou a um subordinado, em dezembro de 2022, se Bolsonaro já havia assinado o projeto de decreto golpista para permanecer no poder.
“Qualquer notícia?” Bormevet, que trabalhava no governo, perguntou ao militar Giancarlo Gomes Rodrigues no dia 21 de dezembro de 2022. “Não p*rra!!”, respondeu Giancarlo.
“Nosso impassível PR já assinou a porra do decreto?” queria saber. “Ele não assinou nada. Essa espera é uma merda, se vai acontecer alguma coisa”, disse o soldado. “Há dias em que acredito que haverá, há dias em que não”, disse Bormevet.
Áudio entre Bolsonaro e Ramagem
A PF disse ter identificado áudio de reunião entre Bolsonaro, Ramagem e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, na qual teriam discutido um plano para anular uma investigação contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). ) no caso das “rachadinhas”.
O áudio é de agosto de 2020, tem duração de uma hora e oito minutos e foi encontrado em um dos aparelhos telemáticos de Ramagem apreendidos pela PF.
Na reunião, segundo a decisão, também esteve presente um dos advogados de Flávio Bolsonaro.
Segundo a PF, durante o encontro, eles discutiram supostas irregularidades cometidas por auditores da Receita Federal na execução do relatório de Inteligência Fiscal que deu origem às investigações contra o filho do ex-presidente.
Em nota, o senador disse que nunca teve qualquer relação com a Abin e afirmou que a operação visa interferir nas eleições municipais.
Possível extorsão
A PF trabalha com a hipótese de que integrantes do esquema “Abin Paralela” tentaram extorquir pessoas monitoradas ilegalmente para obter vantagens financeiras.
Integrantes da investigação já identificaram indícios, em conversas periciais, de que os monitorados podem ter sido alvo de tentativas de extorsão do grupo. Este ponto será mais explorado nas próximas etapas da investigação.
No documento, há uma conversa entre o agente da PF Marcelo Araújo Bormevet e o soldado do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues. Os dois estavam sujeitos a mandados de prisão na operação.
A nova gestão da Abin continua sob suspeita
Mesmo após a demissão de cinco funcionários da Abin, em janeiro, por suspeita de participação no esquema de espionagem ilegal, a nova gestão da organização continua sob suspeita.
Com base nesse cenário, o ministro Alexandre de Moraes negou pedido feito pela PF para que as provas da investigação fossem compartilhadas com a Corregedoria da Abin.
O objetivo da PF era que a Corregedoria tivesse acesso a elementos para instruir eventuais procedimentos administrativos ou investigações em andamento contra seus funcionários.
Moraes, porém, seguiu o parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) segundo o qual a medida não seria “recomendada”, uma vez que “foram identificadas ações da nova gestão da Abin” para obstruir as investigações.
Para a PGR, há indícios “da intenção de evitar a apuração aprofundada dos fatos” e de uma “aparente resistência identificada dentro da Abin”, que está sendo investigada no âmbito da Controladoria-Geral da União (CGU) .
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