O Banco de Compensações Internacionais (BIS) alerta para um cenário ainda “desafiador” na economia global, mas descarta aumentos nas taxas de juros na maioria dos países.
A inflação deverá continuar a cair, com alguma inércia na última fase do combate aos preços e, por isso, os bancos centrais devem estar atentos às mudanças no horizonte e à necessidade de voltar a subir as taxas, o que só deverá ocorrer em casos extremos, segundo a entidade, que publicou hoje o seu relatório anual.
“A principal mensagem que temos é que provavelmente não deveríamos ter quaisquer aumentos nas taxas de juro nesta fase na maioria dos países”, disse o gerente geral do BIS, Agustín Carstens, numa conferência de imprensa para comentar o documento.
O cenário base da entidade, com sede em Basileia, na Suíça, é que a economia global faça um pouso suave e que a queda da inflação seja “duradoura”, com os índices voltando às metas estabelecidas pelos bancos centrais.
O BIS descreve dois outros cenários alternativos plausíveis. Na primeira, a inflação ressurge, com resistências nos preços ou possíveis choques.
No segundo, continua a cair, mas o crescimento económico global deteriora-se acentuadamente, conduzindo potencialmente a uma aterragem forçada.
“A maioria dos cenários mais prováveis é que ainda veremos reduções nas taxas de juro”, disse Carstens.
Afirmou, no entanto, que os bancos centrais têm de estar “muito atentos” e “cuidadosos” com o processo de redução da inflação, uma vez que alguns factores podem atrasar esta convergência, já que a última milha na luta contra os preços geralmente tem alguma “inércia”.
“Se as circunstâncias ou as perspetivas mudarem, os bancos centrais devem estar preparados para aumentar as taxas em cenários extremos”, alertou o diretor-geral do BIS, em conversa com jornalistas.
Segundo ele, o BIS não faz um apelo às autoridades monetárias para reiniciarem um novo ciclo de aumento das taxas de juros.
O alerta é para que os bancos centrais estejam conscientes de que reduzir a inflação de forma adequada leva tempo, explicou. “É muito cedo para declarar vitória”, disse Carstens.
O BIS afirma, no seu relatório anual, que existem vários factores de risco para a inflação, sendo o principal deles o ajustamento dos preços do sector dos serviços em relação aos bens.
Outro é o comportamento dos salários em relação ao nível de preços dos setores de bens e serviços. Ambos estão interligados porque o segmento de serviços é intensivo em mão de obra, segundo a entidade.
O pai dos bancos centrais também reforça o seu alerta relativamente à política fiscal, que considera uma “prioridade absoluta”.
Para ele, esse é um dos “problemas” que podem atrapalhar a última etapa do combate à inflação.
E, segundo Carstens, a sustentabilidade fiscal é uma “preocupação” em geral e não é uma questão de apenas um ou dois países.
“Isso aumentará ainda mais à medida que as taxas de juros permanecerem altas”, alertou.
O director-geral do BIS disse ainda que esta é uma questão importante do ponto de vista da estabilidade macrofinanceira.
Segundo ele, uma política fiscal muito relaxada pode entrar em conflito com a política monetária e impactar o processo de desinflação em curso.
Além disso, para garantir o actual funcionamento dos mercados, seria “desejável” que os governos consolidassem as suas finanças públicas, trabalhando para reduzir as suas dívidas em proporção do Produto Interno Bruto (PIB), sugeriu.
“Neste cenário desafiador, as políticas terão de completar a tarefa de guiar a economia de volta à estabilidade de preços e lançar as bases para um crescimento duradouro”, conclui o pai dos bancos centrais, no seu relatório anual.
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