O ano era 2016, quase 2017, quando fui para Ásia pela primeira vez. Uma viagem planejada com o objetivo de conectar todo o conhecimento que adquiri através de pesquisas e experiências com a realidade de um universo totalmente paralelo chamado Japão.
A esta altura do campeonato não havia intenção de me considerar um entusiasta do mundo dos cocktails, embora já o seja. Então, ouso dizer que foi lá que essa semente foi regada e, curiosamente, não foi visitando um bar, mas sim uma loja de utensílios.
A loja é Loja de barman, que na época contava com um showroom com uma infinidade de copos e utensílios únicos e exclusivos de cair o queixo. Hoje só sobrevive no mundo digital, mas a questão é que a Bartender Store produz conteúdo no YouTube com os principais bartenders do Japão e alguns expoentes globais se apresentando com seus utensílios e, de certa forma, é totalmente hipnotizante.
Todo mundo que acompanha, mesmo que remotamente, o cenário de coquetéis e restaurantes sabe que o Japão tem muitos atributos, que vão desde a maestria em esculpir uma esfera de gelo perfeita na mão para servir uma bela dose de uísque até a forma de servir o chá. E é sobre isso que gostaria de provocar uma reflexão: O que é a verdadeira hospitalidade?
Este ano tive a oportunidade de voltar mais uma vez ao Japão e a impressão é que, cada vez que lá ponho os pés, é como se fosse sempre a primeira vez. Desta vez, estava decidido a descobrir uma série de bares que me inspiram e encantam, começando pelo bar Trincheirapor um brasileiro residente no país há 21 anos chamado Rogério Igarashi. O primeiro sinal da hospitalidade japonesa apareceu depois de alguns drinks e conversas.
Ficamos com fome e perguntamos sobre restaurantes próximos para jantar. Além de nos servirem, nos levaram até a porta do restaurante recomendado, lembrando que a maioria dos bares de coquetéis de lá não tem comida além de salgadinhos industrializados e nozes.
Seguindo o roteiro, o bar do hotel Ritz-Carlton Foi onde bebi o melhor Whiskey Highball, ou Haibooru, da viagem, uma dose de whisky Hibiki edição especial dos 100 anos, refrigerante de yuzu e sal de Okinawa na borda, considerado um dos sais mais puros do mundo.
Mas a cereja do bolo foi a abordagem do bartender, que se preocupou em saber se os sabores que procurava eram de referências antigas e se estava aberto a descobrir o que de melhor o Japão podia oferecer. Ele até compartilhou um itinerário onde poderia provar os Haiboorus mais interessantes do bairro.
Uma vez em Osaka, na principal estação ferroviária, fui ao Sala de artesanatoonde tomei um impecável Espresso Martini, seguido novamente de um atendimento super atencioso e interessado, que terminou também com uma visita guiada ao próximo bar, o Tom Jerryonde provei clássicos feitos com gins japoneses superequilibrados.
Para fechar com chave de ouro, a última barra da viagem de 15 dias foi Virtùlocalizado na cobertura do hotel Quatro estações, que acabava de receber o prémio “Art of Hospitality” no ranking dos 50 Melhores Bares da Ásia. Fomos atendidos por um nepalês muito simpático que morava lá há nove anos e nos tratou de uma maneira que eu nunca tinha visto antes.
Fiquei na dúvida entre um coquetel que tinha figo e bourbon e outro com yuzu e Jerez. Bem, eles provaram os dois coquetéis para facilitar minha escolha.. Realmente impressionante dedicação de uma indústria em fazer com que o cliente se sinta bem, confortável e bem-vindo num local onde poucos estrangeiros entendem a língua local.
Ó O Japão continua sendo uma escola de hospitalidade, e não se trata de ser mimado, mas de ser valorizado e acolhido com propósito. Volto de lá com a cabeça cheia de experiências para compartilhar e com a certeza de que a hospitalidade é um organismo vivo que precisa ser alimentado e que depende de pessoas engajadas, felizes e dispostas.
*Os textos publicados por Insiders e Colunistas não refletem necessariamente a opinião da CNN Viagem & Gastronomia.
Quem é Thiago Bañares
Bañares, formado em gastronomia pela FMU (SP), foi considerado pelo ranking “Bar Mundo 100”, organizado pela importante publicação Drinks International, uma das 100 pessoas mais influentes na indústria global de bares. Seu restaurante/bar Tan Tan aparece – pela terceira vez consecutiva – na lista dos melhores bares do mundo pela “Os 50 melhores bares do mundo”. Dirige o também premiado Kotori, considerado o 65º melhor restaurante da América Latina pela “Os 50 melhores restaurantes da América Latina”; e está à frente do intimista The Liquor Store, local que prima pela conexão entre cliente e bartender e que entrega coquetéis preparados com excelência.
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