O secretário de Relações Internacionais da cidade de São Paulo (SP), o ex-deputado federal e ex-ministro Aldo Rebelo (MDB)), criticou duramente o que considera uma interferência indevida do Supremo Tribunal Federal (STF) em assuntos que deveriam ser tratados por outros Poderes da República.
Aldo participou do último painel nesta quinta-feira (27) do Fórum Global do Agronegócio (GAF), no Allianz Parque, na capital paulista. O evento faz parte da programação do Festival Global do Agronegócio (GAFFFF), promovido pela consultoria agrícola Datagro, que atua em mais de 50 países, e que conta com o apoio da XP.
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“[É preciso] Remover obstáculos a quem pode garantir a segurança jurídica, que é quem produz. O problema não é apenas a incerteza jurídica. O Brasil vive uma situação muito mais grave. O país vive um processo de insegurança institucional, que é quando não se sabe mais qual é a atribuição de cada Poder”, disse Aldo, muito aplaudido pelo público.
“Ou o Brasil organiza uma Emenda à Constituição que restabeleça o papel dos Poderes, que diga que o STF voltará a ser um tribunal constitucional, e não um tribunal de tudo, que legisla, que escolhe ministro, que escolhe delegado… Não, gente, não há condições para isso”, continuou o secretário, em tom inflamado.
Em seu discurso, Rebelo citou dois exemplos do que considera um abuso por parte do STF de suas prerrogativas constitucionais – a questão do prazo das terras indígenas e a paralisação do projeto Ferrogrão.
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A Ferrogrão é vista por amplos segmentos do setor agrícola como um “game changer” que poderá resultar na mais importante rota de escoamento da produção de grãos do país. Segundo estimativas do governo federal, o investimento previsto na ferrovia é de cerca de R$ 25 bilhões. A Ferrogrão teria 933 quilômetros de extensão e ligaria a região produtora de grãos do Mato Grosso, de Sinop (MT), ao estado do Pará, terminando no porto de Miritituba, em Itaituba (PA).
“Quem vai definir o prazo? É o Congresso ou a Suprema Corte? Esta disputa está resolvida. Há uma medida votada no Supremo e outra no Congresso, e uma liminar do ministro Gilmar Mendes que mantém tudo suspenso. O que prevalecerá? Há insegurança jurídica derivada da insegurança institucional”, criticou Aldo.
“Alguém tem que enfrentar esta situação, com todo o respeito às instituições e ao Supremo Tribunal Federal. Estamos com uma ferrovia parada há 3 anos a pedido de uma ONG, por decisão monocrática de um ministro do STF que nem sei se sabe onde fica essa ferrovia”, afirmou.
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“Interesses geopolíticos”
Além de falar sobre as relações institucionais entre os Poderes da República, Aldo Rebelo também abordou o que chamou de protecionismo dos países europeus e dos Estados Unidos contra produtos de destaque do agronegócio brasileiro, como carnes, suco de laranja e café.
Segundo Aldo Rebelo, os países europeus muitas vezes unem forças com ONGs e entidades privadas para atacar o Brasil, utilizando um discurso de defesa do ambiente para encobrir os seus próprios interesses económicos e comerciais.
“Não que a causa ambiental não seja uma causa humanitária importante, generosa e necessária. Mas muitas vezes é utilizado para interesses que não estão ligados ao aquecimento global, às emissões de carbono ou à proteção da natureza”, disse Aldo, durante o painel “Geopolítica, Segurança Alimentar e Comércio Global”, que encerrou o primeiro dia do evento.
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Além de Rebelo, Marcos Jank, professor do Insper Agro; Bernhard Leisler Kiep, secretário-diretor da Abramilho e presidente eleito da Maizzal; e Nilson Leitão, presidente do Instituto Pensar Agro (IPA).
“O mundo enfrenta três agendas permanentes que mobilizam a diplomacia e os acontecimentos internacionais: segurança energética, segurança alimentar e segurança climática. E essa agenda se apresenta não de um ponto de vista neutro, mas de um mundo pautado por interesses geopolíticos, como sempre foi e continua sendo”, afirmou Aldo. “Num mundo guiado por estes interesses, ocorre o fenómeno da corrupção da virtude. Você usa causas virtuosas para interesses menos que virtuosos.”
Protecionismo europeu
Na sua participação no debate, Aldo Rebelo disse que o forte proteccionismo dos países europeus contra a agricultura brasileira é resultado de “uma mudança de época”, com o deslocamento do “dinamismo económico do Atlântico Norte para o Pacífico, da Europa Ocidental e América do Norte para a Ásia.”
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“A transição do dinamismo econômico do Atlântico Norte para o Pacífico e da Europa Ocidental e América do Norte para a Ásia tem um impacto importante no Brasil”, disse Aldo.
“O Brasil deve olhar para a Europa com respeito e carinho, mas não podemos ficar submetidos a uma economia de países fortes com agricultura fraca. Se querem criar uma agricultura assim, o problema é deles. Não temos motivos para nos submeter a isso. Vamos olhar para o outro mundo que está surgindo e ao qual o Brasil precisa prestar mais atenção”, finalizou.
Segurança alimentar
Para o secretário municipal de Relações Internacionais de São Paulo, “a segurança alimentar é uma preocupação permanente da humanidade” e o Brasil deve aproveitar suas enormes vantagens competitivas em relação a outros países.
“Recentemente, a FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura], preocupados com a segurança alimentar e a fome no mundo, procuraram soluções. E a solução buscada apontava para uma grande responsabilidade para o Brasil. Segundo a FAO, o Brasil reúne condições essenciais para reduzir o risco de fome no mundo”, observou Rebelo.
“Isso dá ao Brasil protagonismo, importância e poder geopolítico fundamental. O mundo olha para o Brasil com admiração e respeito não porque tenhamos a bomba atômica”, disse o secretário.
“A segurança alimentar hoje está relacionada à nossa capacidade industrial de ter máquinas, equipamentos e insumos para a nossa agricultura. Protegemos o meio ambiente com a nossa agricultura, que é uma atividade ambientalmente avançada”, continuou o secretário.
O evento
O Fórum Global do Agronegócio (GAF) acontece no Allianz Parque, em São Paulo. O evento é promovido, desde 2012, pela consultoria agrícola Datagro, que atua em mais de 50 países, e conta com o apoio da XP.
O evento deverá reunir cerca de 25 mil pessoas e terá uma extensa programação de palestras, seminários e shows.
GAF faz parte do Festival Global do Agronegócio (GAFFFF). O evento foi concebido com base em quatro pilares: palestras nacionais e internacionais (Fórum), feira de negócios com cinco pavilhões e mais de 100 empresas e startups (Feira), experiências gastronômicas com aulas de gastronomia e Arena de Fogo (Comida), e entretenimento com sertanejo shows musicais (diversão).
Entre os oradores mais destacados do programa estão a activista e política moçambicana Graça Machel, o físico Marcelo Gleiser e o cientista político Parag Khanna. No total, serão mais de 30 painéis, com mais de 100 palestrantes divididos em dois palcos.
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