O ciclo de cortes na taxa básica de juros do Brasil pode chegar ao fim nesta quarta-feira (19), quando o Banco Central (BC) divulgar a decisão dos nove membros do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os rumos da política monetária.
A previsão de que a Selic fique em 10,50% ao ano já é a principal aposta de mais de 80% do mercado, segundo relatório do BTG Pactual.
Se a aposta se concretizar, o fim do ciclo mais frouxo será consolidado antes do que o governo e o próprio mercado projetavam no início do ano.
Uma pesquisa realizada pelo BTG – com gestores de carteiras, traders, economistas e estrategistas de instituições financeiras – mostrou que 83% dos participantes veem os juros permanecendo ao final do encontro.
Em relação ao patamar da taxa para 2024, 58% dos entrevistados veem que a Selic deve encerrar o ano no patamar atual. Outra parcela de 32% prevê juros que terminam em 2024 entre 10% e 10,25%.
A visão menos otimista da política fiscal ficou evidente ao longo do primeiro semestre. No período, houve forte deterioração nas expectativas dos agentes quanto ao rumo da política fiscal do governo.
O temor se intensificou nas últimas semanas, quando o Tesouro anunciou uma Medida Provisória que altera os créditos do PIS/Cofins para compensar a desoneração da folha de pagamento, medida que gerou grande oposição do setor produtivo.
Para os agentes do mercado financeiro, a desconfiança na conduta econômica do governo pode piorar, pois, segundo a pesquisa, a maioria aposta (71%) é que deve haver uma nova mudança na meta fiscal deste ano durante o segundo semestre.
Contudo, uma contrapartida do lado da despesa é vista, por 74% dos participantes, como “muito baixa” ou “baixa”.
O próprio BTG é uma das instituições que já revisou as expectativas para os juros em 2024. Em seu relatório, o banco afirma que o Copom deve completar o ciclo de redução da taxa Selic nesta quarta-feira e cita incertezas globais, atividade doméstica resiliente e expectativas de inflação não ancorada como principais fatores para a decisão.
Preocupações com a inflação
A trajetória do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – que mede a inflação oficial do país – é um dos pontos que as instituições financeiras têm chamado a atenção e que pode exercer grande influência na decisão do Copom.
Em maio, o indicador registrou alta de 0,46% impactado pelo preço dos alimentos, valor considerado atípico para o período pelo mercado.
“Após dois meses de impressões relativamente benignas, o IPCA de maio trouxe resultado desfavorável, com deterioração no componente de serviços, com valores de serviços essenciais e serviços intensivos em mão de obra (e a média das medidas de inflação subjacentes) acelerando e permanecendo acima previsão”, diz o BTG Pactual em seu relatório.
O Inter também fala sobre preços, citando o IPCA de maio e pede cautela diante do cenário atual, principalmente com o impacto da desvalorização do real frente ao dólar vista nas últimas semanas.
A equipa económica do banco estima que a taxa de inflação termine o ano nos 4,3%, face a uma previsão anterior de 4%. Para 2025, o índice deve desacelerar para 3,8%. Nesse cenário, o Inter também espera que a Selic termine este ano no patamar atual de 10,5%.
Quadro fiscal
Com expectativas de inflação não ancorada no curto e médio prazo e persistência do índice acima da meta de 3% tanto para 2025 quanto para 2026, o Goldman Sachs é incisivo em sua análise.
Para a instituição, tal desancoragem do horizonte inflacionário provavelmente reflete prêmios de política, ou seja, a expectativa de que as metas fiscais não serão cumpridas – seja por mudança na meta e/ou perda da meta por derrapagem na execução – e que as autoridades fiscais e monetárias estão inclinadas a acomodar a inflação acima de 3%.
Ao falar da previsão para o cenário fiscal, o banco é contundente e classifica, com base nas projeções para os próximos anos, a política do governo como de “baixa credibilidade”.
“A expectativa mediana para o saldo fiscal primário de 2024 a 2027 permanece profundamente no vermelho, sendo respectivamente: -0,71%, -0,60%, -0,50% e -0,50% do Produto Interno Bruto (PIB), contrariando as metas do governo de impressões não negativas, atestando a baixa credibilidade e o fraco efeito de ancoragem do quadro fiscal”, diz a publicação.
Assim como as demais, diante de tal cenário, a instituição também afirma que espera que a Selic termine 2024 no patamar atual de 10,50%, ou seja, não haveria espaço para novas reduções.
Seja cauteloso na tomada de decisões e também na comunicação. Na avaliação do Itaú, o BC deve, por unanimidade, optar por comunicar que a política monetária deve permanecer contracionista pelo tempo necessário até que o processo de desinflação se consolide e também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
“Com base nestas condições (em particular, a deterioração das expectativas), mesmo com uma taxa de câmbio que poderá estar melhor comportada do que os valores recentes, acreditamos que a comissão decidirá, por unanimidade, pela manutenção do actual nível de juros de 10,50%”, avalia a instituição.
Incerteza refletida no mercado
Com o aumento da incerteza sobre a política fiscal, o Ibovespa abriu a semana em queda e o dólar voltou a atingir máximas desde o início do ano passado.
Na sessão desta segunda-feira (17), o índice brasileiro caiu 0,44%, aos 119.137 pontos, permanecendo no pior nível desde novembro de 2023. A mesma cautela com o cenário doméstico deu novo impulso ao dólar, que fechou com alta de 0,76%, negociado a R$ 5,42.
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