Apesar do crescimento da receita nos últimos meses, o Inter vê que as expectativas em relação às contas do governo federal pioraram, refletindo o aumento da inflação, e, consequentemente, juros mais pressionados em 2024, segundo relatório publicado nesta segunda-feira (17).
O Inter destacou que o crescimento das despesas está acima de 6% em termos reais nos primeiros quatro meses deste ano, mesmo excluindo o pagamento antecipado de precatórios em fevereiro, e que a aceleração continua subestimada pelo governo federal, o que evita contingência contas.
“Com isso, mesmo com receita acima do esperado, revisamos a projeção do déficit primário para R$ 85 bilhões em 2024 e R$ 110 bilhões em 2025, refletindo a maior base de gastos e o fim do efeito pontual de melhora na receita ocorrida em 2024”, escreveu a equipe econômica em nota.
Mais pressão sobre inflação, juros e taxas de câmbio
O banco chamou a atenção para a alta de 0,46% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em maio, que considerou um patamar atípico para esta época do ano. Em 12 meses, o índice oficial de inflação brasileiro foi de 3,93%.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta dos preços foi puxada por alimentos e bebidas, com alta de 0,62%, além dos avanços em habitação (0,67%) e energia residencial (0,94%).
Segundo o Inter, o cenário exige cautela, principalmente com o impacto da desvalorização do real frente ao dólar observada nas últimas semanas. Agora, a equipe econômica da entidade estima que o IPCA encerre o ano em 4,3%, ante previsão anterior de 4%. Para 2025, o índice deve desacelerar para 3,8%.
“Apesar da política monetária mais restritiva por um período mais longo, a inflação mais elevada esperada reflete no curto prazo a recente desvalorização cambial e, no médio prazo, um abalo na confiança na política fiscal e as incertezas em torno da mudança de liderança do o BC”.
As previsões cambiais também foram alteradas, considerando a deterioração do risco fiscal e a expectativa de um défice voltar a crescer em 2025, informou o banco. Para este ano, o Inter vê o dólar fechando a R$ 5,15, indicando redução da vantagem da moeda atual frente ao real.
Nesta segunda-feira, o dólar fechou o pregão a R$ 5,42, valor mais pressionado desde janeiro do ano passado, no início da gestão Lula.
O cenário de câmbio depreciado e aumento da inflação levou a novas revisões nas taxas de juros do país, que deverão permanecer pressionadas por mais tempo.
Agora, a expectativa do banco é que a Selic termine este ano no patamar atual de 10,5% —opinião compartilhada pela maior parte do mercado, que vê o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) antecipar o fim da crise. atual corte das taxas nesta quarta-feira (19).
No mês passado, a equipe econômica do Inter previu que os juros encerrariam o ano na faixa de 9,75%.
Para o próximo ano, porém, com desaceleração das atividades econômicas e queda da inflação, o BC “pode reavaliar a retomada do ciclo de flexibilização monetária”, escreveu o Inter.
“O cenário em 2025 também deve incluir menos risco externo, com início dos cortes do Fed no final do ano, e assim, estimamos a Selic em 9,5% ao final de 2025 considerando a expectativa de inflação em 2026 mais próxima de centro da meta, em torno de 3,5%”.
Desaceleração do PIB
Após alta de 0,8% no primeiro trimestre, a expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) perca fôlego a partir do segundo semestre, fechando o ano com alta de 1,8%, segundo o Inter.
O banco destaca que as atividades surpreenderam positivamente no início do ano, mas há sinais de desaceleração a partir de abril.
“Não só o impulso fiscal perderá força, mas a paralisia econômica no RS, devido à tragédia causada pelas chuvas, deverá contribuir para o enfraquecimento da atividade no 2º trimestre”, escreveu a equipe econômica.
“Além disso, taxas de juros mais restritivas por um período mais longo e uma desaceleração do crédito também deverão contribuir para um menor crescimento do PIB ao longo do 2º semestre.”
Alívio no cenário externo
Olhando para o cenário internacional, o banco vê alívio na perda da inflação nos Estados Unidos, com expectativas de até dois cortes de juros por parte do Federal Reserve (Fed) ainda este ano.
“Taxas de juros mais altas lá por mais tempo ainda pressionam os mercados emergentes, mas a consolidação do cenário de soft landing pode reduzir a pressão sobre o câmbio no segundo semestre e contribuir para o retorno da discussão sobre cortes de juros no Brasil em 2025”.
Na semana passada, a autoridade monetária dos EUA manteve as taxas de juro na banda atual de 5,25% – 5,5%, e indicou apenas um corte nas taxas este ano.
O Inter é controlado pelo empresário Rubens Menin, que também é fundador e presidente da MRV Engenharia, controladora da Log Commercial Properties e da CNN Brasil.
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