Nesta última quinta-feira (13), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao lado da ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmaram que o governo trabalha para cortar gastos no Orçamento de 2025.
Embora a promessa de déficit de gastos públicos seja zero, o mercado vê com desconfiança o compromisso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com cortes de gastos.
Diante deste cenário, o debate sobre a desindexação dos gastos obrigatórios do Orçamento Público está em voga.
Na visão de uma classe econômica, a dissociação das despesas obrigatórias no orçamento poderia, de fato, ser uma forma mais eficiente de o governo “gastar menos e lucrar mais”.
Atualmente, a União apresenta déficit de R$ 251,9 bilhões nos últimos doze meses até abril, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Vale destacar que, desde a Constituição de 1988, a União tem a obrigação constitucional de gastar um percentual mínimo fixo de suas receitas em áreas como educação e saúde, as chamadas obrigações constitucionais.
Esse mesmo tipo de vínculo determina que o benefício mínimo previdenciário ou assistencial (Loas) seja equivalente a um salário mínimo.
A proposta de desindexação elimina ou reduz mecanismos de ajuste de preços, que são baseados em índices de inflação.
Isso significa que os preços não aumentam mês a mês (ou dia a dia, como acontece quando há um cenário de hiperinflação).
Prós e contras
Para o economista e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe), Paulo Tafner, a dissociação dos gastos poderia não apenas reduzir a dívida, mas também trazer crescimento econômico ao país.
“Os efeitos positivos são enormes, como a alocação mais eficiente de recursos e a possibilidade de criação de excedentes para reduzir a dívida, e com isso as taxas de juro estruturais da economia”, afirma.
Além disso, com a dissociação, o Orçamento não poderia mais ser menos “rígido”, melhorando a distribuição dos recursos. O economista avalia ainda que a dificuldade encontrada atualmente pelo governo é com as obrigações constitucionais.
O pesquisador explica que, apesar de a população em idade escolar ser hoje praticamente a metade do que era em 1988, o presidente não pode reduzir os gastos na área, dada a vinculação desse gasto à receita obtida.
“A ligação cristaliza uma situação que pode ter mudado muito desde a constituição de 1988, como é o já citado caso da população em idade escolar”, aponta.
Caso ocorresse a dissociação dos gastos mínimos em áreas como saúde e educação, a União poderia ter até R$ 131 bilhões disponíveis para uso em outras despesas até 2033, segundo estimativa feita pelo Tesouro em março deste ano.
O economista-chefe da Warren Investimentos e ex-secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto, também defende que é hora de repensar o atual modelo fiscal para que ele caminhe em direção a uma regra sustentável, que promove a autonomia do governo.
“Não dá para continuar vinculando a receita a esses percentuais gigantescos. Garantir gastos de forma permanente não significa que você está melhorando as políticas públicas”, afirma.
Por outro lado, Tafner alerta que a dissociação pode ser negativa nos casos em que o governo comprima demais os gastos sociais.
“Talvez no curto prazo haja cortes em determinadas áreas que poderiam ser exagerados e isso impactaria determinados segmentos sociais. Mas entendo que no médio e longo prazo os gastos tenderiam a se ajustar a qualquer que seja a preferência alocativa social”, destaca o economista.
Salário mínimo
Na prática, quando o salário mínimo aumenta em termos reais, ou seja, acima da inflação, o aumento provoca um ajuste significativo em outras despesas, como pensões e assistências.
O benefício foi reajustado para R$ 1.412 pelo governo Lula a partir de janeiro deste ano, um aumento de 6,97% em relação aos R$ 1.320 vigentes em 2023. O cálculo leva em consideração a variação da inflação do ano anterior e o crescimento real da o Produto Interno Bruto (PIB).
O que tem sido defendido, segundo Tafner, é que ao desvincular esses pontos, a assistência social pode aumentar livremente sem impactar nos gastos previdenciários.
“As propostas aqui caminham no sentido de criar uma política de salário mínimo que não tenha, pelo menos por enquanto, aumento real. E isso pode ser feito pela lei ordinária”, afirma o economista.
Por outras palavras, os benefícios seriam então ajustados monetariamente pela inflação.
Na mesma linha, Salto vê que a actual política fiscal não tem contribuído para a boa gestão dos recursos públicos.
“O reajuste do salário mínimo não deve ser o PIB defasado, mas sim o PIB per capita para garantir que o piso salarial do país evolua de acordo com a produtividade”, recomenda.
Quadro fiscal
Segundo Salto, o cenário fiscal do Brasil no momento traz boas e más notícias. Do lado positivo, o economista destaca a aprovação do novo quadro fiscal, em 2023.
A segunda é que Haddad aprovou uma série de medidas do lado da receita que estão gerando resultados e que são boas do ponto de vista da receita, segundo o economista.
De janeiro a abril deste ano, a União teve um crescimento de 8,26% em sua receita líquida, atingindo R$ 228,87 bilhões, segundo dados do governo federal.
Mas, no meio deste progresso, alguns “maus sinais” agravaram-se e “contaminaram” as perspectivas do mercado, diz Salto.
Um deles foi a recente apresentação, por Fernando Haddad, do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) com metas menores para o próximo ano.
O plano passou de um excedente primário de 0,5% do PIB para um défice zero — a mesma meta de 2024, 2025 — 0% do PIB (contra 0,5% antes); 2026 — 0,25% do PIB (em comparação com 1% antes).
“Expressar simplesmente este desejo de gastar mais é mau”, diz o economista-chefe de Warren.
Alternativas
Diante deste cenário de insegurança quanto à responsabilidade do governo com as metas propostas no PLDO, a desindexação do orçamento surge como uma forma alternativa de equilibrar as contas da União.
Para o economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas Ibre/FGV, Fabio Giambiagi, uma opção à proposta de desindexação do Orçamento seria o governo federal enviar seu próprio plano de reajuste real do salário mínimo.
“A melhor alternativa viável em relação a isso seria enviar uma proposta ao Congresso, por meio de medida provisória. Definir o valor do salário mínimo para janeiro do próximo ano, seguindo a regra atual”, explica.
Para 2026, diz o economista, o benefício poderá estar atrelado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Salto sugere a criação de um “índice social” para fixar o reajuste dos gastos públicos, que deverá ser discutido anualmente com o Congresso Nacional.
“Poderíamos, por exemplo, criar uma regra mais inteligente e atrelada ao PIB projetado, para gerar economia em relação ao que você faz hoje e também congregar as áreas de saúde e educação”, explica.
Caso o PIB do país não registre crescimento ou recessão, Salto defende que deve haver uma regra com piso mínimo para o ajuste.
Salto aponta ainda o maior controle das emendas no Congresso Nacional por parte do Executivo.
“Do lado dos gastos também é possível limitar as emendas parlamentares a um percentual das despesas discricionárias. Não dá para ter R$ 50 bilhões em emendas e R$ 50 bilhões em investimento, por exemplo”, finaliza o economista.
Compartilhar:
taxa de juros para empréstimo consignado
empréstimo para aposentado sem margem
como fazer empréstimo consignado pelo inss
emprestimos sem margem
taxa de juros empréstimo consignado
consiga empréstimo
refinanciamento emprestimo consignado
simulador empréstimo caixa
valores de emprestimos consignados
empréstimo para funcionários públicos
valores de empréstimo consignado