Rubens Menin, dono da MRV Engenharia (MRVE3), aproveitando a presença do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, no painel de encerramento do Fórum Esfera no Guarujá, litoral de São Paulo, disse ele acha muito desafiador para o Brasil passar mais quatro anos com altas taxas de juros. Ao desenvolver seu discurso, que teve como ponto de partida o conceito de causa e consequência que dita a política monetária, o empresário apertou o tom na tentativa de encurralar o banqueiro central, exigindo redução dos juros nominais e, portanto, consequência da taxa real.
“Sou fã do BC independente e tem que ser assim, não há dúvida, mas eu diria que é necessário interesse, como a quimioterapia para curar uma doença. Mas existe uma dose que é ideal. Não podemos errar por mais ou por menos. Se errar por mais, mata o paciente e se errar por menos, não cura. Esta taxa de juro real de 6% é um desafio, quanto tempo teremos de aguentar. As pessoas não aguentam mais, os empresários não conseguem investir”, afirmou Menin, para quem será um grande desafio ter de passar mais quatro anos com a taxa de juro actual.
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Menin diz entender que uma das causas dos juros altos é fiscal e sugeriu que todos os Poderes se unam em torno de um consenso para chegar a um pacote tributário para reduzir custos e dar condições ao Banco Central de cuidar da economia. “Sei que uma das funções do BC é cuidar da economia, da inflação e do equilíbrio financeiro”, disse.
As provocações do empresário, porém, foram imediatamente respondidas por Campos Neto. Demonstrando um tom mais sério do que o habitual, o banqueiro central disse que não se pode confundir causa com consequência.
“Hoje, se você for ao mercado financeiro, tem um título que o Tesouro emite, uma NTN-b, que paga juros reais. Se olharmos para 2055, ontem (sexta-feira) a taxa fechou em 6,30%. Não é isso que o BC faz. É o Tesouro que emite e faz isso porque a 6,30% porque esse é o preço pelo qual as pessoas estão dispostas a financiar o governo. Então hoje temos uma taxa média de juros de 6% com que as pessoas estão dispostas a financiar o governo e isso não tem nada a ver com o BC”, defendeu Campos Neto.
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Segundo o banqueiro central, o BC não tem capacidade de determinar essas taxas de juros longas. Ainda segundo Campos Neto, é preciso entender bem o conceito de causa e consequência e que o que o BC faz é determinar a taxa de juros do dia.
“Se determinarmos essa taxa de juros de um dia sem ter credibilidade, o que vai acontecer com essa taxa de juros de longo prazo, vai cair ou subir? Vai subir e já tivemos essa experiência no passado”, disse Campos Neto, acrescentando que a Selic não determina o prêmio de risco de longo prazo e que o trabalho de estabelecer a Selic de curto prazo com credibilidade e autonomia é o que torna o taxa de queda longa.
“Quando no Brasil tivemos queda dos juros reais? Foi exatamente nesse momento que as pessoas entenderam que o BC tinha credibilidade. Quando entramos com o teto de gastos ele caiu, quando entramos com o quadro caiu. Portanto, não podemos confundir causa com consequência. O interesse não é a causa, é a consequência. Se fosse esse o caso, seria ótimo, a taxa de juros simplesmente cairia e todos aqui ficariam felizes. Mas não podemos fazer isso”, respondeu Campos Neto.
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Ele acrescentou ainda que o BC cumpre meta estabelecida pelo governo. “Temos um instrumento para atingir esse objetivo que é o interesse. Trabalhamos com base no princípio da separação. Os juros são para política monetária, o câmbio é flutuante e as medidas macro prudenciais são para resolver problemas do mercado financeiro”, disse Campos Neto.
O presidente do BC disse que vai entregar a inflação mais baixa dos últimos tempos e que, embora empresários e bancos não sintam, as pessoas de baixa renda sentem – e sentem muito.
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