Com a expectativa de maior volatilidade nos mercados mexicanos, após a eleição da candidata indicada pelo presidente López Obrador, Claudia Sheinbaum, e da maioria dos partidos de esquerda no Congresso, o JPMorgan reiterou sua recomendação sobrepeso (exposição acima da média do mercado, equivalente a compra) para o Brasil.
O banco disse que adoptou uma postura mais defensiva, preferindo a exposição a acções que beneficiam de moedas mais fracas e que poderão ver os lucros aumentarem mesmo num ambiente onde as taxas acabam por ser mais altas do que o esperado.
Com isso, o banco aposta mais em finanças do que em imóveis, considerando que retirou muitas ações sensíveis às taxas de juros no Brasil (Cyrela CYRE3, Allos ALOS3).
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Dentro do setor financeiro, a preferência do banco é por empresas que consigam entregar bons resultados mesmo em um ambiente de taxas altas: no Brasil, adicionou Stone (STOC31) e Porto (PSSA3) em vez de XP (XPBR31) e no México substituiu Gentera por Banorte.
Para o segmento industrial, o banco tem visão otimista para as companhias aéreas da América Latina, além de Embraer (EMBR3), Marcopolo (POMO3), GAP e Localiza (RENT3).
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Os analistas também comentaram que preferem os bens de consumo básicos aos discricionários, acrescentando a JBS (também devido à exposição ao dólar) e no México mudando de KOF para Arca. Na discricionariedade, o banco prefere evitar o Vivara (VIVA3) e optou pelo SmartFit (SMFT3).
Em relação às commodities, o JPMorgan segue sobrepeso em materiais, somando agora GCC e Gerdau (GGBR4). Mas reduziu a classificação do sector energético para subponderação ao remover a Petrobras, uma vez que o real mais fraco representa um problema se os preços do petróleo subirem, enquanto a empresa pode agora ter uma direcção diferente. Ele também está otimista nas utilities (serviços de utilidade pública) no Brasil, com Sabesp (SBSP3) e Energisa (ENGI11).
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Em relação à avaliação, segundo cálculos do JPMorgan, o Brasil está negociando com desconto de 40% em relação aos mercados emergentes, enquanto o México está negociando ao par. Ainda assim, ambos são negociados com o mesmo desconto (cerca de 25%) em relação à média de 10 anos.
O banco espera um crescimento de lucro de dois dígitos no México, enquanto o do Brasil é, na melhor das hipóteses, estável, com rentabilidade (ROE) semelhante para ambos. “Embora a dívida seja baixa nos dois mercados, ela é maior no Brasil (2,1 vezes dívida líquida/Ebitda)”, ressalta.
Em termos de dados, não há grande diferenciação aparente no crescimento, na trajetória da inflação, nas taxas de juros, na avaliação do JPMorgan. “As contas externas também são bastante semelhantes e não representam vulnerabilidade para nenhum dos países”, explica.
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Segundo o relatório, a questão que se coloca para o México, um país com grau de investimento, é antiga no Brasil: o México está tendo a maior expansão fiscal da América Latina em 2024 (+1,6% do PIB). A questão é se a nova administração será capaz de controlar isto. Ainda assim, a situação fiscal no Brasil é muito pior e torna o país mais volátil e vulnerável a mudanças políticas e choques externos.
No geral, de acordo com o JPMorgan, o México tem lidado com um ambiente macro relativamente estável nos últimos 20 anos, o que não é o caso do Brasil.
Os analistas destacam ainda que o tema do nearshoring (transferência da produção para um local mais próximo de onde a mercadoria é vendida, para reduzir custos e dificuldades logísticas) levou o México a ter um desempenho muito melhor que o do Brasil nos últimos anos.
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Ao mesmo tempo, o crescimento muito saudável dos EUA apoiou as acções de consumo mexicanas, enquanto as empresas mexicanas de construção e imobiliária também colheram os benefícios do impulso infra-estrutural dos EUA.
O Brasil, por sua vez, sofreu com o declínio do crescimento chinês pós-Covid e com um consumidor alavancado. Embora o real tenha enfraquecido mais de 30% nos últimos 5 anos, o peso mexicano ganhou 10%. O Brasil é um mercado mais profundo que o México, tendo o dobro do valor de mercado e liquidez (ADTV) quase 4 vezes maior.
Os estrangeiros são atores importantes em ambos os países (cerca de 50% de participação, mais ou menos), sendo o mercado local maior no Brasil, mas crescente no México.
O JPMorgan também comenta que a política é parte essencial dos mercados latino-americanos e o quadro é o mesmo nos dois países, mas o filme pode ser diferente. A maioria no Congresso obtida por Morena confere-lhe poder para implementar uma agenda já anunciada que poderia promover menos independência institucional, talvez até dificultando uma possível alternância de poder.
Por outro lado, com todos os seus problemas, o Congresso brasileiro tem sido um contrapeso a ideias mais radicais do governo, como reversões de reformas, etc. Além disso, espera-se que as eleições brasileiras voltem a ser um tema quente para o mercado em cerca de um ano.
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