Os milionários da poupança – pessoas com mais de R$ 1 milhão investidos em sua caderneta de poupança – não estão conseguindo ganhar somas milionárias ou mesmo bilionárias com esse investimento. Uma simulação feita pela Ouro Preto Investimentos mostra os valores que esses investidores vêm deixando na mesa, que ficam mais evidentes com o passar do tempo.
A pesquisa levou em consideração os R$ 55 bilhões que pertencem a investidores com mais de R$ 1 milhão aplicados em poupança e comparou o rendimento desses recursos com outros investimentos em renda fixa com rentabilidades diferenciadas, como CDBs, LCIs e LCAs, títulos públicos (Selic Tesouro, Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA), CRAs e CRIs.
Considerando o período de um mês, esses R$ 55 bilhões investidos na caderneta renderiam cerca de R$ 332 milhões. É o menor rendimento de todos – nos demais investimentos em renda fixa, esses mesmos R$ 55 bilhões renderiam de R$ 381 milhões (no investimento alternativo de menor rendimento, o LCI/LCA pagando 80% do CDI) para R$ 540 milhões ( opção com maior rendimento, o Tesouro Fixo 2031), conforme tabela abaixo. Os cálculos foram feitos por Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
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Com o tempo, a diferença de renda deixa de ser milionária e passa a ser bilionária. Considerando um período de investimento de três anos, se esses investidores tivessem optado pelo investimento alternativo com menor retorno (LCI/LCA pagando 80% do CDI), teriam ganho R$ 2 bilhões a mais do que se o dinheiro tivesse ficado na poupança. E, considerando a melhor alternativa (Tesouro Prefixado 2031), teriam ganho R$ 9 bilhões – em média R$ 3 bilhões por ano – a mais do que na poupança (veja diferentes simulações na tabela abaixo).
Quanto mais o tempo passa, maior é a diferença devido ao efeito da capitalização de juros (rendimentos que incidem sobre os ativos investidos e rendimentos do passado). Assim, se for considerada a aplicação de cinco anos, os R$ 55 bilhões renderiam R$ 4 bilhões a mais que na pior aplicação alternativa e R$ 18 bilhões na melhor.
O estudo levou em consideração os retornos brutos. Mas, mesmo considerando que os rendimentos de outros investimentos são tributados (com exceção de LCI e LCA, que também são isentos) eles ainda saem à frente da poupança – as alíquotas variam de 22,5% a 15%, dependendo do prazo de aplicação . Isso porque, atualmente, a remuneração da poupança é de 0,5% ao mês (6,17% ao ano) mais a Taxa Referencial (TR), que nos últimos 12 meses foi de 1,24%. Ou seja, a remuneração da caderneta é bem inferior à atual taxa Selic, de 10,5%, e ao CDI, que gira em torno de 10,4% ao ano. Quando a Selic cai abaixo de 8,5%, a regra muda e a caderneta passa a render 70% da Selic mais a TR.
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“A questão é cultural. Pouca gente sabe que pode abrir o app do banco e ver que existem diversas outras opções disponíveis, como o CDB. Ainda falta educação financeira”, afirma Lima, da Ouro Preto Investimentos. Para ele, a falta de informação explica por que mesmo pessoas com mais de R$ 1 milhão disponíveis para investir – e que têm acesso a bons produtos de investimento – continuam investindo na poupança. Há também “apego à tranquilidade”, considera.
Lima lembra ainda que os investidores devem levar em conta o ganho real, ou seja, quanto obtêm acima da inflação. No caso de todos os investimentos em renda fixa, mas principalmente da poupança devido à baixa rentabilidade, existe o risco de o investidor perder para a inflação, ou seja, de o dinheiro investido não conseguir sequer manter o valor de compra. Isso porque o rendimento “gordo” acima da inflação – que hoje estaria em torno de 3,7%, considerando uma projeção para o IPCA do ano que vem – pode ser facilmente corroído caso haja uma surpresa negativa, uma recuperação da inflação.
João Pedro Silva, cabeça da mesa de renda fixa da Status Invest, também atribui a manutenção dos recursos dos milionários na caderneta de poupança ao fator cultural e geracional: “As gerações anteriores não tinham tanto acesso à informação como temos agora. Poupança é sinónimo de segurança e rentabilidade certa, embora existam vários investimentos com risco equivalente e retornos superiores. O que dificulta é a falta de educação financeira”, avalia.
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Silva lembra que o risco que o investidor corre na poupança é o mesmo que corre no CDB ou em uma LCI ou LCA: é o risco da instituição financeira onde investiu. As três modalidades de investimento, aliás, são garantidas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que cobre perdas de até R$ 250 mil por CPF e por instituição, limitado a R$ 1 milhão e renovável pelo prazo de 4 anos. Ou seja, se um banco falir onde o cliente tiver 4 aplicações diferentes (LCI, LCA, CDB e poupança) de R$ 250 mil cada, o FGC reembolsará o investidor.
2020 foi o último ano em que as cadernetas de poupança apresentaram entradas líquidas positivas, ou seja, em que as aplicações superaram os saques – vale lembrar que foi um ano atípico por conta da pandemia, que levou as pessoas a poupar mais dinheiro. A captação líquida foi negativa em R$ 35,4 bilhões, R$ 103 bilhões e R$ 87,8 bilhões em 2021, 2022 e 2023 (os números levam em conta a caderneta do SBPE e a poupança rural). No início do ano em curso, continuou a tendência de resgates maiores do que investimentos: o livro teve uma captação negativa de quase R$ 24 bilhões até o final de abril. Em maio, as captações ficaram positivas em torno de R$ 3 bilhões até o dia 17.
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